16.09.2018

Um seguimento feito de Fé e de obras

Jesus on the crucifix aganist a dark and dramatic sunset sky. Copy space
Jesus on the crucifix aganist a dark and dramatic sunset sky. Copy space

 

A segunda leitura da Liturgia deste domingo, tirada da Carta de São Tiago, vem completar ou melhor concretizar o ensinamento de Jesus acerca do servo sofredor que carrega os pecados do mundo: “Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé, quando não a põe em prática?” . A fé autêntica, aquela que é propriamente o que há de ser, a fé viva, é uma fé que opera pela caridade. Daí a afirmação de Tiago: “Assim também a fé: se não se traduz em obras, por si só, está morta” (Tg 2,17). Neste mesmo tom fala São João: “Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar

seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão” (1Jo 4,20-21).

Por isso, lamentava o biógrafo de São Francisco: “Temos mais doentes que militantes quando, nascidos para o trabalho, deveriam ver sua vida como uma luta. Não gostam de ser úteis pela ação, e pela contemplação não o conseguem” (1C 162).

Não podemos confundir, porém, ação com agitação. O cristão, na ação, no cuidado das muitas coisas, como Marta, não perde de vista o Único Necessário: seguir Jesus Cristo – não perde-lo de vista. Por isso, bem alertava Santa Clara a sua Irmã Inês para que mantivesse sempre acesa a chama do “ardente desejo do Cristo pobre e crucificado” (1CCl 13). Finalmente, diz, também o Bem-aventurado Egídio, companheiro de São Francisco: “Se bem crês, bem operas” (DE 2).

Conclusão

A liturgia deste domingo com suas leituras, principalmente, nos convoca a celebrar o princípio, a fonte ou raiz do mistério de nossa identidade mais profunda de cristãos assim definida ou descrita por São Francisco: “Chamados por Deus da cruz e para a cruz”. E para explicar a sumidade desta identidade nos apresenta o jocoso “fioretto” (florzinha) de Frei Bernardo, mais precisamente, “Como Frei Bernardo foi a Bolonha para fundar um Convento”.

Chegando em Bolonha, esse frade punha-se diligentemente, sentado, todos os dias, na praça da cidade onde era insultado, maltratado, injuriado e até mesmo batido e surrado pelos passantes que assim, nele e através dele, descarregando suas maldades, maus humores, dissabores e espíritos perversos, como se estivessem diante de um doido varrido, voltavam para suas casas aliviados e libertos do peso das chateações da vida e de seus pecados. Enfim, divertiam-se com ele como ou quando certas pessoas maldosas fazem com um doido, uma pessoa abobada ou palhaço.

E assim, quando aquele povo descobriu que ele fazia tudo aquilo só porque queria imitar Jesus Cristo crucificado; que aquilo era sua Regra, sua Vida, a Regra e a vida de São Francisco e por isso todos queriam tê-lo em suas casas para tratá-lo bem, pensava: “Aqui não tenho mais lucro nenhum. Além do mais o convento, agora, está fundado”. E, imitando o Mestre, às escondidas, saindo procurava outras localidades a fim de repetir o mesmo feito, o mesmo ato, o mesmo “Fioretti”.

Essa maneira, à primeira vista exagerada, desequilibrada e um tanto esquisita de Bernardo colocar-se na praça pública esconde o segredo mais íntimo de todos aqueles primitivos frades: o exercício de se enraizar cada vez mais profundamente para dentro do seguimento de Jesus Cristo entendido como participação de sua cruz; o segredo de pessoas profundamente apaixonadas pela vocação-missão do Servo Sofredor, de carregar e assumir para si as maldades, as doenças e os pecados dos homens seus irmãos, os filhos queridos de seu Pai. Mas isso só é possível se estiverem profundamente unidos a Cristo crucificado (Cf. imagem de Murilo). Do contrário sucumbiriam redondamente. Por isso, Francisco ousava defini-los com esta expressiva e desafiadora denominação: “Homens do Crucificado”. Por isso, também, como portadores deste novo princípio da nova criação da humanidade, inaugurado por Cristo Crucificado, se faziam não apenas fontes da Paz, do Bem, mas também estância de uma nova realidade chamada Reino de Deus, Reino dos Céus, Reino do Pai, novo Céu, nova Terra (Cf. Em Comentando I Fioretti, Frei Hermógenes Harada, ifan, pág. 111).

E assim, “carregando a cruz no vestir e no comer e em todos os seus atos, desejavam mais os opróbrios de Cristo do que as vaidades do mundo e as lisonjas enganosas; por isso, alegravam-se pelas injúrias e entristeciam-se pelas honras. E iam pelo mundo como peregrinos e forasteiros, nada levando consigo a não ser Cristo. Pelo que, onde quer que fossem, faziam grandes frutos nas almas, pois eram verdadeiros ramos da videira viva” (Atos 4; Fi 5).

Fraternalmente,

Marcos Aurélio Fernandes e frei Dorvalino Fassini, ofm