04.10.2020

Solenidade de S. Francisco de Assis

Cristo, o Homem perfeito, o Senhor de todos os senhores, o único Homem confiável, era o Sol que iluminava e acalentava Francisco na busca de seu novo humano, o humano que se estende a todos os homens e, até mesmo, às mais ínfimas criaturas acolhendo-as com o afetuoso trato de “irmãos” e de “irmãs”.

Pela sua familiaridade com Cristo e com seu Evangelho, tornou-se pleno de Deus, pleno de sua claridade e de sua força, passando a sentir e a ver também cada criatura como sendo plena, cheia de Deus e de sua Palavra.

Era assim, pois, que Francisco ouvia e lia a Palavra de Deus: o Verbo incriado, no qual todas as coisas foram criadas; o Verbo encarnado, no qual tudo foi recriado e santificado; o Verbo crucificado, no qual todas as coisas foram reconciliadas: o céu e a terra, o invisível e o visível.

Mergulhado em Deus, através de Jesus Cristo crucificado, Francisco sentia e via todas as criaturas como crias e crianças de Deus. Estando para além do mero uso, do mero consumo ou utilidade das coisas, ele as sentia e as via, partindo da sua origem – o Pai comum. Por isso, ele se encanta e canta com cada uma delas: “meu Irmão Fogo”, “minha Irmã Água”, “meu irmão Lobo”, etc.

À exemplo São Paulo, também o jovem cavaleiro de Assis, no caminho das Apúlias, foi derrubado do cavalo do mundanismo da glória humana e do bem estar pessoal (EG 93); também Francisco, como Paulo, foi escolhido para tornar-se administrador e mensageiro das odoríferas palavras do seu Senhor, que é o Verbo do Pai, e as palavras do Espírito Santo, que são Espírito e Vida (Cf. 2CFi). E assim, ele e seus companheiros, indo pelo mundo, como ‘peregrinos e forasteiros’, nada levando consigo a não ser Cristo crucificado, […] faziam grandes frutos nas almas, pois eram verdadeiros ramos da videira viva (Atos 4).

Cristo, o maior, o máximo, o mestre se abreviou, se apequenou (VD 12), se fez menor, o mínimo, o servo, o discípulo. Aquele que não cabe no universo inteiro coube num coxinho de estrebaria e, depois, nos braços de uma cruz e num pedacinho de pão. Essa é a sabedoria da nova Escola, da nova Ordem, inaugurada por Cristo com seus Apóstolos e redescoberta por Francisco; a sabedoria que salva, restaura e redime o humano de todos os homens de todos os tempos. Sabedoria que significa Caminho, Escola, Ordenamento (Ordem) onde o homem se exercita e se ordena para ser, de novo, filho no Filho; para fazer-se menor com o menor, mínimo com o mínimo, irmão e servo de toda a humana criatura (RNB 16).

São Francisco é louvado pela verdadeira pobreza e a verdadeira humildade.  Pobreza que significa o júbilo de ter encontrado a riqueza, o tesouro de sua vida: o Meu Deus e Tudo (Atos 1), o Pai nosso que está nos Céus (LTC 20). Francisco, em vez de lamentar-se ou considerar-se pobre ou empobrecido, sempre se teve como a pessoa mais feliz, realizada e rica da terra. Deus é o seu próprio. Por isso, a ele pertence também tudo o que é de Deus: o céu e a terra e tudo quanto neles há. Em Deus ele tem Tudo.

A virtude da humildade evangélica nasce da gratuidade do encontro, do amor. “A humildade é o vigor do céu e da terra! O vigor do céu e da terra é grande, imenso, inesgotável e sereno; terno e carinhoso, tudo envolve na sua transparência cordial! De nada se apossa, tudo deixa ser na inocência nasciva da admiração! Vigor singelo e simples, variegado e uno, vivo e criativo, jovial e profundo que a todos serve com alegria! É seguro e firme como a bondade do pai, solícito, benigno e delicado como o olhar e o toque da mãe”. (Frei Harada).

Não será esse o modo de ser – o Reino do Céu! – do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo? O modo de ser Dele mesmo, o nosso Mestre? Aprendei de mim, pois sou manso e humilde de coração! Não será esse o modo de ser do seu Sopro Sagrado – caminho – a sabedoria precisamos amar e seguir para reconstruir a Igreja; modo de ser, caminho, sabedoria, ordem que hoje precisamos adotar, se quisermos realmente restaurar o humano, se quisermos, também, reconstruir sua Casa Comum, a Criação!?

Mas, para que isso aconteça, é preciso recordar que São Francisco, antes de um ambientalista ou pacifista, foi um convertido. Uma conversão que nasce e floresce da alegria do encontro com a Boa Nova de Jesus Cristo crucificado; uma conversão que nos leve a exclamar e implorar com ele e como ele:

Altíssimo e glorioso Deus, ilumina as trevas do meu coração: Dá-me Senhor uma fé reta, uma esperança certa

e uma caridade perfeita, senso e conhecimento para que realize teu santo e veraz mandato. Amém (OC).

(Adaptação da reflexão enviada p/Fr. Dorvalino Fassini)