08.04.2022

SEXTA-FEIRA da 5ª. Semana da Quaresma

“De novo, os judeus apanharam pedras para apedrejar Jesus.”

(Jo 10,31-42; Jr 20,10-13; Al 18,1-7)

· “Entre” em oração usando os meios necessários: posição corporal, quietude interna e externa, composição vendo o lugar da cena bíblica, petição da graça de identificação com Jesus, que, às vésperas de sua paixão e morte, revela sua fidelidade ao Pai e ao Reino até o fim.

· Mobilize sua interioridade acolhendo os “pontos” indicados abaixo.

Estamos nos aproximando da Semana Santa. A liturgia realça o aumento de tensão entre os judeus e Jesus. À medida que Jesus vai aprofundando seu ensinamento, também aparece a enorme diferença existente entre o que os judeus aprenderam da tradição e o que o próprio Jesus lhes quer transmitir. E vão aparecendo as doentias murmurações.

Sabemos que a murmuração se expressa de inúmeras maneiras, formando uma montanha de ressentimentos, queixas, críticas ácidas etc., entrando numa espiral de amargura e fechamento. Murmurar é contraproducente e nocivo. É difícil conviver com alguém que só murmura e poucas pessoas sabem como responder às queixas feitas por quem expele seu veneno interior.

À medida que a pessoa se deixa arrastar para o interior do vasto labirinto das suas murmurações, ela fica cada vez mais perdida, até que, no fim, acaba se achando o ser mais incompreendido, rejeitado, negligenciado e desprezado do mundo.

O relato evangélico de João deixa transparecer outro “pecado de raiz”: o fanatismo.

Todo fanatismo é perigoso; mas o pior fanatismo é o religioso. Uma coisa é a fidelidade e outra é o fanatismo. Porque o fanatismo cega a pessoa, fechando-a nela mesma, bloqueando as portas para qualquer luz que venha de fora. O fanático só acredita em seus próprios pensamentos, em suas próprias ideias; ele acredita ser o único dono da verdade. No fundo, acaba sendo um totalitário, que busca se impor sobre os outros.

E o pior de tudo é que o fanático busca eliminar aqueles que pensam diferente e termina por “apedrejar” quem não é do seu grupo.

Jesus foi uma dessas vítimas do fanatismo religioso e da lei. E tudo em nome da defesa da verdade, da doutrina, da moral, da tradição…

Segundo o Evangelho deste dia, quem tem um coração petrificado pelas murmurações e fanatismos, naturalmente terá pedras em abundância nas mãos para serem atiradas nos outros.

Jesus teve duras experiências com as pedras, porque, muitas vezes, quiseram apedrejá-Lo, embora Ele tenha conseguido livrar-se. Ele tem consciência de que as pessoas sempre encontram justificativas, sobretudo religiosas, para apedrejar os outros.

Num coração carregado de murmurações e queixas, o Espírito não tem liberdade de atuar; dessa resistência à ação do Espírito, brotam as doentias divisões internas, que atrofiam as forças criativas, petrificam o coração, resistem ao novo e levam ao distanciamento de tudo e de todos. Com isso, a pessoa se blinda, tornando-se rígida, fechada em suas posições, crenças, valores, e não se deixa impactar pelo novo, pelo diferente. É penoso para ela reconhecer o que é bom nos outros, e facilmente prefere apedrejá-los com suas críticas, difamações, julgamentos…

São piores as pedras da língua do que as pedras que atiramos com as mãos.

Como quebrar os ferrolhos da intolerância, do fanatismo, dos preconceitos, e estender as mãos para acolher o surpreendente e o novo?

Como passar do coração de pedra para a morada da fonte de água viva?

. Leia atentamente o Evangelho indicado para a oração de hoje, quando chegamos ao ponto alto do conflito de Jesus com as autoridades religiosas.

. Diante de Jesus, des-vele (tire o véu) de sua vida: onde você sente maior rigidez? Na comunidade, na relação com Deus, no encontro com os outros, na busca do perfeccionismo?

. Converse com o Senhor: Repita em seu coração: Senhor, dá-me um coração de carne em vez de um coração de pedras. Dá-me mãos que se estendem ao que está caído. Arranca de minhas mãos as pedras que tenho para atirar sobre os outros. Amém.

. No final da oração, dê graças por esse momento e registre no seu “caderno de vida” os movimentos mais fortes do coração e as inspirações que surgiram; isso poderá ser partilhado no seu grupo de vida.

Reflexão dos Padres Jesuítas.