11.03.2017

Sermão sobre a transfiguração

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmãos, e os levou a um lugar à porte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Ele os levou até a montanha para mostrar-lhes a glória de sua divindade, e lhes ensinar que ele era o Redentor de Israel, tal como já tinha revelado por seus profetas; e também para prevenir todo escândalo à vista dos sofrimentos que livremente iria sofrer por nós em sua natureza humana. Eles, de fato, o conheciam como homem que vivia com eles no mundo, mas sobre montanha  revelou-lhes que era o Filho de Deus, e o próprio Deus.

Eles o tinham visto comer e beber, fatigar-se e descansar, cochilar e dormir, apavorar-se até gotejar de suor, coisas que não pareciam estar em harmonia com sua natureza divina, nem convir a sua humanidade. Por isso os trouxe sobre a montanha, para que o Pai o chamasse seu Filho, e lhes mostrasse que ele era realmente Filho dele, e que ele era Deus.Ele os levou sobre a montanha e mostrou-lhes sua realeza antes de sofrer, seu poder antes de morrer,sua glória antes de ser ultrajado, e sua honra antes de sofrer a ignomínia. Assim, quando fosse tomado e crucificado pelos judeus, seus apóstolos compreendessem que não foi por fraqueza, mas por consentimento e de plena vontade para a salvação do mundo.

Ele os levou até a montanha para mostrar-lhes, antes de sua ressurreição, a glória de sua divindade. Deste modo, quando ressuscitasse dentre os mortos na glória de sua divindade, seus discípulos reconheceriam que não recebia essa glória em recompensa de sua aflição, como se precisasse delas, mas porque já lhe pertencia bem antes dos séculos, com o Pai e para o Pai, assim como ele mesmo lhe disse ao aproximar-se voluntariamente de sua paixão: Pai glorifica-me junto de ti, concedendo-me a glória que tive contigo antes que o mundo fosse criado. E então, na montanha, ele mostrou aos seus apóstolos a glória de sua divindade, oculta e escondida por sua humanidade. Porque eles viram o seu rosto brilhante como um relâmpago e sua roupa brancas como a luz. Eles viram dois sóis, um visível, como de costume, e um incomum; invisível no firmamento e iluminando o mundo, e outro, a sua face, visível somente a eles.

                     Santo Efrém, diácono e doutor da Igreja (séc. IV)

(do folheto “Povo de Deus em São Paulo” – ano 41)