“Clara é essencialmente uma grande contemplativa, toda a sua vida consistiu em amar absolutamente, em viver face a face com o Absoluto para ir conformando-se com ele cada vez mais. Para ela, a oração vivida como um relacionamento esponsal e pessoal é como a respiração da alma, é diálogo de amor, é o querer e realizar as coisas de seu Amado Jesus. Unida intimamente a Jesus quer apresentar ao Pai toda honra e toda a sua glória. A contemplação foi constante em sua vida. Embora ela não consistisse para ela em fenômenos extraordinários, Clara recebeu iluminações excepcionais a respeito do mistério de Deus. Compreendeu existencialmente o que quer dizer abertura à graça e docilidade ao Espírito. Para poder adorar o Pai em espírito e verdade será preciso cuidar do centro vital do espírito que conecta com o Absoluto: o coração como lugar e diálogo amoroso da frágil criatura com o Deus Altíssimo.
Que as irmãs trabalhem e trabalhem diligentemente. Assim evitarão o ócio que é inimigo da alma. Mas que não percam o espírito da santa oração (cf. Regra 7). Antes de tudo a oração. Vivendo intensamente esse relacionamento íntimo, Clara não deixou nenhum tratado sobre a oração, não sistematizou seu relacionamento pessoal com o Cristo Pobre. Através de seus escritos, no entanto, descobrimos a contemplativa, a orante por excelência que convida ao silêncio interior e exterior como espaço privilegiado para perceber e acolher o Absoluto. Tanto na saúde quanto na doença, entregava-se à oração.
Frei José Rodriguez Carballo . A Santa escreve para Inês com o intuito de ensinar-lhe a contemplar. Não lhe pede que fale, cante ou reflita, mas somente que ponha a sua mente, sua alma e seu coração em Jesus Cristo: “Ponha a mente no espelho da eternidade, coloque a alma no esplendor da gloria. Ponha o coração na substância da figura divina e transforme-se inteira pela contemplação, na imagem da divindade” (3ª. Carta a Inês 12-13). Nisso consiste a contemplação: pôr, colocar, ordenar a mente, a alma e o coração que estejam constantemente “voltados para o Senhor”, como diz São Francisco. Ele, e só Ele, deve ser o centro da capacidade de compreensão (a mente), o centro da capacidade de amar ( o coração) e o centro da capacidade de viver no mundo de Deus ( a alma). Desse modo, a contemplação abarca toda a pessoa” (Carta às Clarissas do ano de 2006).