10.03.2020

RETIRO QUARESMAL – Quarta-feira da 2ª. semana

(Istock)

“Quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso servo” (Mt 20,17-28; Jr 18,16-20; Sl 30(31))

  • Paro um momento, mobilizando todo o meu ser para sentir a presença de Deus dentro de mim e à minha volta; Deus, Criador do Universo, está no pulsar do meu coração.
  • Faço um gesto de reverência e acatamento.
  • Suplico-lhe a graça indicada para esta semana (está no texto do domingo passado).
  • Depois de preparado o terreno interior, vou lendo calmamente as indicações abaixo para poder acolher com mais calor o Evangelho indicado para esta oração.

Neste dia do Retiro Quaresmal, a Palavra de Deus vem “desmascarar” um desejo profundo e escondido que todos temos: a sedução do poder; ele é um “pecado de raiz” que gera divisão, solidão…e nos afasta da comunhão com os outros e do serviço solidário.

Ter poder”: essa expressão ecoa forte no coração humano. O poder deslumbra, ofusca e pode facilmente se tornar o centro da identidade de um indivíduo. Seu brilho encanta e seduz; sua proposta é extremamente atraente; para muitos, ele é a suprema ambição. Na verdade, o poder é uma das forças mais sedutoras em todos os tempos, e que se expressa nas atitudes de dominar; manipular; subjugar para que tudo possa ser feito segundo o próprio gosto e os próprios interesses.

Não há ser humano que não tenha sido tentado pelo canto desta sereia.

A cultura do poder suga o “espírito” da vida de uma comunidade, minando sua criatividade e fragilizando seus laços de convivência. Por seu caráter impositivo, o poder deteriora relacionamentos, resvalando-se para o terreno pantanoso da competição, da suspeita, da intriga. É o extremo da perversidade e de desvio do coração.

O poder não constrói comunidade, pois a pessoa se cerca de subservientes que cumprem suas ordens, dizem amém às suas ideias ou, ainda que críticos, calam-se convenientes, pois nutrem também suas ambições e não querem ser “rifados” por quem possui mais poder que eles.

É do coração de Deus que vem a indicação do remédio para esse mal que sorrateiramente toma conta do coração humano e o endurece, produzindo os cenários de corrupção, mentiras e manipulações, impedindo a vida de desabrochar e crescer.

Jesus, com seu modo de viver, despoja-se de todo poder; Ele tem autoridade: “ensinava-lhes com autoridade e não como os escribas”. E a autoridade de Jesus não tem nada a ver com o poder que se impõe ou a liderança que arrasta. O poder nunca é mediação para a libertação do ser humano.

A palavra “autoridade” vem do verbo latino augere, que significa literalmente aumentar, acrescentar, fazer crescer, dar vigor, robustecer, sustentar, elevar…É a atitude de quem apoia, sustenta, ajuda as pessoas a serem elas mesmas, ativando sua autonomia e desenvolvendo suas próprias qualidades.

A autoridade é essencialmente amor.

Jesus revela sua autoridade ao fazer cada pessoa descobrir, em seu interior, uma força capaz de libertá-la radicalmente. A oferta de vida nova feita por Jesus permite comprovar que há no fundo de cada ser humano uma força criadora e criativa, que não há poder algum que possa destruí-la, nem sequer a morte.

Esta é a autoridade de Jesus que, a partir de sua profunda contemplação da vida, das pessoas, se compromete com os “impuros” e os “excluídos”, para dar-lhes a boa notícia e desmascarar a mentira daqueles que decidem, com prepotência e violência, manipular a vida deles.

  • Agora, leio calmamente o Evangelho, escutando Jesus, que, diante da briga pelo poder dos discípulos, reage com força contra a tentação, presente no coração de todos.
  • Há dentro de mim resquícios de rivalidade, competição, vaidade, prestígio?…
  • No final da oração: Quais apelos brotam da oração? Onde e como senti sua presença?
  • Registro no “caderno da vida” os “movimentos do coração”: consolação? Desolação?…