01.03.2021

Recorte da vida da Ir. Inácia no tempo que viveu no Brasil.

 
Um recorte da vida da nossa Ir. Inácia Bergleiter, que celebrou, no dia 27 de fevereiro, 95 anos. 
 
A Bíblia diz: “Sobre os segredos do Rei devemos guardar silêncio, mas proclamar as maravilhas de Deus”!
Entendo minha autobiografia como um agradecimento a Deus por tantas graças que Ele me concedeu durante toda a minha vida. Acima de tudo, considero um presente de Deus as pessoas maravilhosas que Ele colocou, desde o início da minha vida, ao meu lado e ao longo de todo o meu caminho. Com esforço sincero de melhorar a mim mesma e o mundo; sendo Irmãs, sentindo-se responsáveis umas pelas outras, e por todos os homens, esperança, sucesso e fracasso, mas tudo no sentido último, por AMOR a JESUS CRISTO e ANUNCIANDO O EVANGELHO. Deus é o nosso lugar!
 
Recorte da vida da Ir. Inácia no tempo que viveu no Brasil.
 
Foi num domingo cheio de sol, em junho de 1957, quando fui para Ingolstadt para me encontrar com a Madre Fridolina. Quando o trem passou entre os prados em flor, os campos dourados, pelas belas aldeias com suas casas e jardins sorridentes… eu pensei: ”O mundo é tão bonito…e você, o vai abandonar!?”… Meu ânimo decaía cada vez mais. No caminho da estação de trem para o Convento, fiz primeiro uma grande volta pelo parque municipal. Olhando os canteiros coloridos de amor-perfeito e miosótis, cheguei à conclusão de que não teria a coragem de abandonar o mundo e minha liberdade.
Alguém deve ter rezado por mim, pois de repente pensei: ”Vou pedir para  Sto. Inácio. Que ele me dê a força da decisão, agora, neste instante!” E ele atendeu o meu pedido. De repente, fiquei invadida por uma calma e tranquilidade. Eu sei, com toda certeza, que esta decisão e segurança não vieram de mim, mas unicamente do céu.
Fui ao Convento e, quando se fechou atrás de mim o pesado portão de Gnadenthal, tive uma sensação de tanta paz como nunca antes experimentara e só um pensamento: CHEGUEI! 
Em nossa conversa, Madre Fridolina disse que, se eu realmente quisesse  ir  para o Brasil, poderia viajar no dia 31 de julho com a Madre Cáritas que estava de férias na Alemanha. Eu disse SIM, pois 31 de julho é a festa de Santo Inácio, e para mim isto era um sinal do bom Deus.
Dentro de quatro semanas me preparei para a saída definitiva da Alemanha com os papéis, visto, vacinações  e despedidas  dos amigos. Estes  diziam: “Se quiser voltar, não vá para outro lugar, venha de novo a Nürnberg, a nós!” Meu tio dos Estados Unidos, também escreveu que pagaria a viagem aérea, se quisesse voltar para casa. Mas eu não pensei em voltar para a Alemanha, pois gostei do Brasil, de sua gente e do país desde o primeiro instante, quando pisei em terras brasileiras. E, antes de tudo, experimentei a acolhida de Jesus, daqueles que seguiram o seu chamado. Fiquei feliz com a sensação de ter achado o meu lugar no mundo.
Gostei de tudo no Brasil, mesmo não sabendo nenhuma palavra em Português e vivendo em meio de juvenistas mais novas 10 a 15 anos. Depois de meio ano de juvenato, entrei no postulantado, recebi um 2° ano  primário e dei aulas de Desenho e Canto no então chamado Ginásio Nossa Sra. Aparecida, em São Paulo. No ano de 1958 entrei no noviciado, fiz a profissão temporária em 1959 e  a  profissão  perpétua em 1962.
Transferências para Ponta Grossa e Baependi, me trouxeram enriquecimento, conhecendo outros lugares e novos amigos: médicos dedicados, sacerdotes zelosos, povo acolhedor. Gostei principalmente do trabalho no noviciado, partilhando com as noviças as riquezas da Bíblia, os estupendos acontecimentos da História da Igreja e as graças concedidas à nossa Congregação ao longo de sete séculos. Foi muito bonito celebrar, com a juventude religiosa, o ano de Deus, com liturgias solenes, encenando teatros e fazendo alegres excursões, trabalhando e estudando em casa e no jardim. 
Em 2014 voltei para minha pátria. Nasci em Nürnberg,  estado da Baviera, onde mora meu irmão. Eu vivo em Ingolstadt com as Irmãs da Casa Mãe. 
De toda a minha vida religiosa digo: “Um dia em vossos átrios, Senhor, é melhor do que milhares fora dele. Prefiro ficar no limiar de vossa casa do que morar em outras tendas!” A Comunidade Religiosa significa, de certo modo, um viver no átrio de Deus. (Ir. Inácia Bergleiter)