07.04.2022

QUINTA-FEIRA da 5ª. Semana da Quaresma

“ Se alguém guardar minha palavra, jamais provará a morte”

( Jo 8, 51-59; Gn 17, 3-9; Sl 105 (104)

· Crie um ambiente, interno e externo, para facilitar o encontro com o Senhor.

· Não esqueça da oração preparatória, composição do lugar, petição da graça de identificação com Jesus, que, às vésperas de sua paixão e morte, revela sua fidelidade ao Pai e ao Reino até o fim.

· Comece a oração considerando as indicações abaixo – elas poderão ajudar a aquecer o coração para uma maior intimidade com o Senhor.

As palavras têm um peso enorme no anúncio e na atividade missionária de Jesus; elas não são neutras. Como um raio x, as palavras proferidas por Ele investigam os recantos mais profundos do ser humano; como um refletor em noite escura, elas reacendem a esperança onde tudo perdeu o sentido; como a chuva em terra seca, elas revelam as novidades na vida, despertam as consciências adormecidas, põem em questão as atitudes de indiferença e de fechamento.

No encontro com a realidade dos pobres e excluídos, Jesus escolhe palavras provocativas, previamente cinzeladas e incorporadas no seu interior; onde revelam dinamismo, sentido e alteridade; suas palavras brotam de uma vida interior fecunda e conduzem a uma vida comprometida.

O desenlace do capítulo 8 de São João torna-se uma ocasião privilegiada de calar, de silenciar o palavreado, de deixar de abusar das expressões gastas, para retomar a palavra sincera, para recordar que a vida não é uma brincadeira, para que, quando voltarmos a pronunciar, com delicadeza, palavras carregadas de sentido e de vida, possamos nos fazer conscientes da beleza, profundidade, promessa e compromisso que estão por detrás de cada uma delas. Nesse sentido, para crer em Jesus é preciso ter fome: fome de vida e de justiça, que não fica satisfeita com palavras vãs, ocas e desprovidas de sentido.

Professamos que Jesus é a palavra de Deus, uma Palavra sem a marca da falsidade ou do vazio, uma Palavra viva e vívida; uma Palavra autêntica, de amor e paixão pela humanidade.

Pois, por meio da identificação com Jesus, também nós podemos ser palavra do mesmo Deus neste mundo. Uma palavra de amor, de sustento, de presença solidária…E eu, que palavra sou?

A “palavra dura” de Jesus, no Evangelho deste dia, deve nos inspirar a uma tomada de consciência do lugar e do valor das palavras em nosso cotidiano.

Quantas palavras dissemos ou escrevemos hoje? Temos consciência do peso, da força que elas carregam?

Vivemos saturados de palavras; elas nos assaltam por meio das canções, estão nos perfis virtuais, nos livros, em mil e uma conversações cotidianas. Falamos, escrevemos, escutamos, lemos…

E, de tanto usá-las, talvez elas acabem perdendo o sentido. Começamos a usá-las de um modo tão natural que não nos damos conta do que elas significam. Então falamos, mas não vivemos. Palavreado crônico, desconectado da vida.

Sabemos que as palavras podem ter significados profundos; elas podem consolar ou golpear, ferir ou acariciar, adoecer ou curar. Podem ser sinceras ou falsas, pensadas ou espontâneas…são nossos maiores tesouros. Falamos, escrevemos, lemos e compartilhamos palavras carregadas de vida ou de morte.

A palavra, no dizer de um pensador, é uma poderosa soberana que realiza feitos admiráveis. Pode expulsar o temor, suprimir a tristeza, infundir alegria, dilatar a compaixão. A palavra é o fundamento de todo relacionamento humano. Serve para comunicar o que queremos, expressar sentimentos, argumentar, despertar… O mutismo e a negação da palavra constituem terras de desolação. Aprendemos com as palavras emprestadas de outros ou, quem sabe, também nós chegamos a dizer algo que tenha feito a diferença para alguém.

Falamos, e, na fala-escuta, nós nos encontramos e revelamos nossa identidade.

Jesus foi o Mestre que movia com suas palavras vivas. É no encontro com a Palavra encarnada que brotam em nós palavras criativas, carregadas de esperança e de sentido. As palavras nos tocam e nos constituem.

Fora do percurso da palavra encarnada, vivemos intoxicados de palavras, ou seja, um amontado de palavras mortas, sem carne, sem entranha, sem verdade, modelando seres adoecidos e desencarnados.

A palavra tem um peso porque sua ressonância permanece. Em tempos de “sociedade líquida”, também nossa palavra pode escorrer e evaporar-se.

Que nossas palavras sejam sempre vivas!…e a serviço da vida!

Na oração: para que tenham sentido e força, para que não se tornem falsas nem dolorosas, as palavras deveriam passar pelo filtro da mente e do coração. Seguindo o conselho de Santo Agostinho, as palavras deveriam passar antes pela lima do que pela língua, para que cheguem à voz, polidas pela inteligência e pelo amor.

· Considere sua história de vida e tente recolher dela as palavras que, espalhadas no chão de sua existência, foram criadoras de possibilidades e abertura sem limites.

· Que palavras estão em excesso em sua fala? O que seria melhor calar? Em que, seu falar, é bem-dizer? Em que circunstâncias da vida suas palavras são carícia, bálsamo, consolo?

Reflexões dos Padres Jesuítas