05.04.2022

QUARTA-FEIRA da 5ª. Semana da Quaresma

“Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres”

(Jo 8,31-42; Dn 3,14-20; Sl (Dn 3,52-57)

· Mobilize-se inteiramente para “entrar” em oração: diante de Quem vou estar?

· Prepare-se cuidando do ambiente, do silêncio, que facilitam uma experiência mais profunda e peça a graça de identificação com Jesus, que, às vésperas de sua paixão e morte, revela sua fidelidade ao Pai e ao Reino até o fim.

· Deixe ressoar em seu coração “os pontos” abaixo, como motivação para melhor acolher a Palavra de Jesus indicada para o dia de hoje.

A Verdade é uma das grandes carências existenciais; ela aponta para o sentido da vida, expressa a grande e permanente busca do ser humano. Não se trata de uma necessidade periférica, mas de uma dimensão que nos humaniza.

Jesus, diante dos judeus, se apresenta como resposta a esta busca.

“Conhecer a verdade” é aspiração humana inata. O ser humano tem sede de verdade. Vai buscá-la nas encostas do mundo e nos recôncavos de seu espírito. Descobrir a verdade é uma conquista alvissareira.

Compensa fazer vigílias e trilhar veredas para chegar à verdade. Uma das angústias humanas é não alcançar o manancial da verdade. Enquanto existir verdade encoberta, o ser humano viverá inquieto.

A verdade clareia a vida. Sem a verdade, a existência é sombria. A verdade gera autenticidade. Onde falta a verdade, instala-se um vazio na existência. Quem não vive a verdade está “carunchada” por dentro. Impregnar-se da verdade é humanizar-se.

O ser humano busca a verdade: antes de “ter’ a verdade, ele quer “ser a verdade”, ele deseja existir na verdade. Jesus afirma: “Eu sou a verdade”, e não ‘eu tenho a verdade” (poderia fechar-se diante da verdade do outro, caindo no fundamentalismo). O importante não é ter a verdade, mas ser verdadeiro. A pessoa verdadeira pode entrar em ressonância e em sintonia com a verdade do outro.

Na longa discussão com os judeus, Jesus vai revelando a “verdade” do Pai, de si mesmo e de todo ser humano. Verdade que não se identifica com teorias, especulações, mas como um modo de viver. Verdade que é tecida no dia a dia no encontro com a Verdade revelada.

Jesus não só diz a verdade, mas busca a verdade, e só a verdade de um Deus que quer um mundo mais humano para todos os seus filhos e filhas. Diante dessa verdade, Jesus se revela verdadeiro, pura transparência. Como Mestre, “Jesus fala com autoridade, mas sem falsos autoritarismos. Fala com sinceridade, mas sem dogmatismos. Não fala como os fanáticos que procuram impor sua verdade. Tampouco fala como os funcionários, que a defendem por obrigação, embora não creiam nela. Não se sente nunca guardião da verdade, mas testemunha” (Pagola).

Jesus é o Homem autêntico, a referência de ser humano, o ser humano de verdade. Jesus é a última referência para todo aquele que quer deixar transparecer em sua vida a verdadeira qualidade humana.

Jesus é verdadeiro porque revela o que é mais nobre em seu coração; não usa máscaras, é pura transparência do rosto do Pai.

Quem é verdadeiro se move com muita liberdade em direção à verdade presente nos outros; não usa máscaras, não se impõe…Sua verdade vibra e se encanta com a verdade presente no outro. Verdades que se encontram, que entram em comunhão, que humanizam.

Toda pessoa verdadeira, transparente, incomoda, é provocativa, porque desmascara nossas mentiras, nossas falsidades ocultas…Por isso, é rejeitada.

A verdade não é um dogma, e sim um caminho. Quanto mais verdades absolutas, mas estreito vai ficando nosso mundo. A verdade desvela o desconhecido, revela a dignidade da pessoa, reivindica liberdade e igualdade, sustenta o significado essencial do ser humano, preserva os valores consistentes.

Ser “testemunha da verdade” requer “viver na verdade”, não em algumas crenças ou doutrinas. E viver na verdade inclui o reconhecimento e a aceitação da própria verdade, e da verdade presente no outro. Não pode estar na verdade quem não se aceita com toda sua verdade, com suas luzes e suas sombras; não pode estar na verdade quem vive identificado com seu ego ou com sua imagem idealizada.

Falando de um modo mais claro: só conhece a verdade quem é verdadeiro, sem máscaras ou disfarces. Quando se é verdade, conhece-se a verdade.

Na oração:

· Revele-se diante de Deus e deixe transparecer a verdade de sua vida: na confiança filial, des-cubra o que está encoberto, des-vele o que está velado, des-oculte o que está escondido, des-lumbre o que está ensombreado, des-mascare o que está camuflado, des-emudeça o que está calado, des-cative o que está preso.

· A verdade que somos nunca pode ser algo que alguém tem e possa transmitir ou impor aos outros, mas a Presença que a todos sustenta e a todos abraça. Só a Presença d’Aquele que é a Verdade ativa a verdade escondida em nosso interior.

Reflexões dos Padres  Jesuítas