23.09.2021

O profetismo na lógica do Espírito

NancyAyumi-Istock

O profetismo sempre marcou uma presença decisiva na história do Antigo Testamento, prestando um serviço especial, não apenas para Israel, mas também para toda a humanidade.

O protagonista do profetismo, porém, é sempre o Espírito. Ele não sobrevém apenas ao homem, mas também se infunde, se derrama em seu coração, provocando uma radical transformação de sua existência. O profeta, então, em vez de viver e de falar a partir de si, começa a viver e a falar a partir do Espírito – que passa a ser a vida de sua vida. Por isso, também, sua fala é clara e apaixonada, contundente e aguda, tocante e ardente como fogo. Por isso, é irrefutável.

Em vez de prender, deixar-se prender pelo Espírito

Ao longo da caminhada de Israel, a profecia, o profetismo, como experiência do Espírito, foi adquirindo manifestações diferenciadas e compreensões várias.

Nos tempos mais antigos, o profeta era chamado ora de “vidente”, ora de “homem de Deus” (Cf. Elias). Mais tarde, foi chamado de nabi: aquele que convoca, anuncia, prega; ou então, aquele que é chamado e nomeado para ser porta-voz da fala divina (o que fala em nome de Deus). Sua palavra é radicalmente histórica. Fala a partir dos acontecimentos e das destinações do povo. Traz, como mensageiro de Deus, uma palavra que ultrapassa as circunstâncias imediatas e que merece, não somente ser ouvida, mas também comunicada. Sua mensagem está voltada, ao mesmo tempo, para o presente, o passado e o futuro. Os acontecimentos axiais do passado servem para iluminar o porvir e abrir perspectivas e horizontes de futuro. O profeta é o guardião do devir.

O livro dos Números expõe a formação de Israel, sob a vocação de Jahvé e a profecia de Moisés. Moisés é o grande profeta que intermedeia entre Deus e o povo de Israel no Êxodo e na travessia do deserto. É então que Israel se constituiu como o povo chamado a ser, por vocação divina, o povo que, por seu testemunho de fidelidade a Jahvé, iria unir todos os povos a Deus. Assim, Deus-povo-profeta formam um todo uno. Deus escolhe o povo para si, institui uma aliança com ele, caminha com ele e o envia à terra da liberdade. O povo, porém, sempre de novo, fracassa. Ele permanece surdo e esquece a aliança. Por isso, era necessário o profeta para manter desperta a determinação espiritual desse povo na história.

Frei Dorvalino Fassini, OFM