10.09.2021

O diálogo de Jesus

sedmak-Istock

O Evangelho deste domingo começa narrando uma viagem estranha: Jesus leva os Apóstolos para um lugar apartado, fora da Judeia e da Galileia, para a região de Cesareia de Filipe. Curiosos, perguntamos: por que levá-los para tão longe, fora dos limites de sua terra, além das crenças e tradições de sua gente, para o meio de estranhos e pagãos? É que ali, bem distantes das pressões que eles viviam na Judeia e mesmo na Galileia, Jesus poderia fazer-lhes a pergunta mais importante e decisiva da vida deles. E, eles, por sua vez, livres e sem nenhum temor, poderiam responder-lhe o que pensavam d’Ele.

Além do mais, chama também a atenção a maneira como Jesus conduz esse encontro, isto é, sua admirável pedagogia, o caminho, o método da evangelização e da catequese cristã. Jesus não começa, a modo de mestre ou professor, expondo direta, imediata e explicitamente sua mensagem, muito menos impondo a verdade acerca de sua pessoa. Mas, aos poucos, procura despertar e fazer arder no coração daqueles rudes homens uma afeição pura e um interesse gratuito pela pessoa d’Ele. Em segundo lugar, o que está em jogo não é um “quê”, um objeto, um ideal, uma doutrina ou um valor, mas a verdade de um “quem”, de uma pessoa, do Messias, o Salvador de Israel e de toda a humanidade: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13).

A resposta dos Apóstolos revela que “os homens”, de certa forma, já estavam atraídos por Jesus e encantados por Ele, embora não alcançassem sua verdade plena. É o que indicam as informações, reportadas pelos discípulos, a respeito da concepção que a multidão tinha de quem era Jesus: “Para uns, João, o Batista; para outros, Elias; para outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas” (Mc 8,28).

Entretanto, as opiniões populares sobre Jesus não eram suficientes para que os discípulos alcançassem e acedessem à verdade da identidade do Mestre, muito menos ainda para que se fizessem seus discípulos, amigos, familiares e íntimos. A confissão de fé deles, portanto, para emergir, precisava ainda de outro apartamento, não corporal, físico, geográfico, mas de um apartamento intelectual, espiritual. A confissão de fé, o acesso à verdade de quem era Jesus Cristo, só lhes seria possível quando eles, os discípulos, se apartassem, se desprendessem da confusão dos pareceres, das opiniões dos homens, do mundo, a respeito Dele, o Mestre. Por isso, logo depois, segue a segunda pergunta: “Vós, porém, quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29).

Frei Dorvalino Fascini