02.03.2021

JOSÉ, O HOMEM QUE MOSTROU A JESUS O CORAÇÃO DO PAI.

 

José ben Yacob, de Belém, mãos endurecidas pelo trabalho e coração amolecido pelo amor e pelos sonhos; ouvinte silencioso do zumbido dos anjos através da humilde via dos sonhos; cônjuge que nunca reivindica o direito de primogenitura do sim de Maria, dito a ele mesmo antes que a Deus, é para o pequeno Jesus a experiência fundadora do que significa o coração de um pai.

carta apostólica Patris Corde, com a qual Francisco institui o ano de São José, traça um retrato tão belo como uma surpresa, vivo como uma lufada de ar fresco. […] José, o justo, no Evangelho de Mateus sonha quatro vezes: o homem justo tem os mesmos sonhos de Deus; vive deles, porque “a vida tira suas raízes do sonho” (Turoldo); não se satisfaz com o mundo assim como ele é. Enquanto vivemos em uma sociedade onde os sonhos foram roubados, que visa mais manter o existente do que gerar um futuro possível.

“Sem despertar – disse Roberto Benigni com grande inteligência – não se pode sonhar”. José é despertado dos sonhos e age, apesar do fato de que cada vez é um anúncio parcial, de luz apenas para o primeiro passo. São sonhos de palavras. E é isso que é concedido a todos e a cada um, a quem se deixa habitar pelo Evangelho com o seu sonho de novos céus e de uma nova terra. José ama Maria a ponto de sonhar com ela mesmo à noite; ele a ama mais do que sua descendência, mais do que sua paternidade física. Não é um resignado, mas um viril e extraordinário “sim” à realidade que ele não decidiu e que lhe é anunciada em sonho.

“A vida espiritual que José, esposo no acolhimento, nos mostra não é um caminho que explica, mas um caminho que acolhe” (PC), na fragilidade e na ternura profunda. Num mundo de violência psicológica e física contra as mulheres, José se apresenta como figura de homem respeitoso e delicado que decide pela reputação, dignidade e vida de Maria.

Segundo sonho: pegue a criança e sua mãe e fuja para o EgitoJosé se levanta, abraça sua família, e se coloca em caminho. Três verbos a serem gravados no diário de casa, decisivos para o destino de cada família e para o destino do mundo: seguir um sonho, iniciar um caminho e cuidar.

Colocar-se em caminho é a segunda ação. Não ficar parado, mesmo que Deus ofereça pouco, apenas a direção para a qual fugir; é então que a coragem e a inteligência, a criatividade e a tenacidade de José assumem o controle. Cabe a ele estudar itinerários e descansos, medir o esforço e as forças. O Senhor não oferece um manual, acende objetivos, depois lhe confia à sua liberdade e à sua inteligência.

O terceiro verbo é cuidar, manter próximo a si mesmo. Dois jovens apaixonados e um recém-nascido, quase nada, mas o destino do mundo se decide dentro desta família de refugiados e profetas, protetora dos migrantes e dos apaixonados.

Herodes está morto, regressa à terra de Israel”. De novo a caminho, verdadeiro pai, mesmo que oculto e na segunda linha: “Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outro, em certo sentido exerce a paternidade para com ele” (PC).

Um último sonho aponta para a Galileia. Em NazaréJosé escava no coração e abre espaços para aquela mulher e para aquele filho que carrega consigo um “inédito” que só pode ser revelado com a ajuda de um pai que respeita a sua liberdade.

Ser pai significa apresentar ao filho a experiência de vida. Não o deter, não o aprisionar, mas torná-lo capaz de escolhas, de liberdade, de partidas. Dar-lhe em dom grandes asas. Assim fez José, concreto e sonhador, marido na acolhida terna, pai amado na vida cotidiana e coragem criativa oculta”.

Autor: Hermes Ronchi (Biblista) – artigo publicado por Avvenire de 28/02/2021- Tradução de Luisa Rabolini.