30.08.2022

Gratuitamente

 

Há uma “bem-aventurança” de Jesus que nós, cristãos, temos ignorado. “Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Feliz de ti, porque eles não podem retribuir-te”. Na realidade, fica difícil para nós entender estas palavras, porque a linguagem da gratuidade nos é estranha e incompreensível.

Em nossa “civilização do possuir” quase nada é gratuito. Tudo é intercambiado, emprestado, devido ou exigido. Ninguém acredita que “é melhor dar do que receber”. Só sabemos prestar serviços remunerados e “cobrar juros” por tudo o que fazemos ao longo da vida.

No entanto, os momentos mais intensos e culminantes da vida são aqueles em que sabemos viver a gratuidade. Só na entrega desinteressada pode-se saborear o verdadeiro amor, a alegria, a solidariedade, a confiança mútua. Gregório Nazianzeno diz que “Deus fez o homem cantor de sua irradiação” e, certamente, nunca o homem é tão grande como quando sabe irradiar amor gratuito e desinteressado.

Não poderíamos ser mais generosos com os que nunca nos poderão retribuir o que fizermos por eles? Não poderíamos aproximar-nos dos que vivem sozinhos e desamparados, pensando apenas no bem deles? Viveremos sempre buscando nosso interesse?

Acostumados a correr atrás de todo tipo de gozos e satisfações, atrever-nos-emos a saborear a felicidade oculta, mas autêntica, que se encerra na entrega gratuita a quem de nós precisa? Charles Péguy, um seguidor fiel de Jesus, vivia convencido de que, na vida, “aquele que perde, ganha”.

José Antonio Pagola