14.02.2022

Francisco de Assis

Quem é Francisco de Assis?

Como qualquer homem, ele é grande e  frágil.  Sua conversão e  caminho de santidade  foram acontecendo gradualmente:  jovem imaginando seu futuro mundano,  transbordando  de ambição e  “escapando” de todo apelo do Senhor.  Homem  à beira da estrada, vagueando, a caminho,  vereda  na qual alegrias, sofrimentos, dúvidas, confrontações, decepções, desafios  permanentes se entrechocam e ele  toma como modelo supremo sem jamais separar dele  “a humildade de Deus”,  aquela “Palavra  de Deus tomando  carne em nossa  humanidade e de nossa  fragilidade  escolhendo a pobreza” (2Carta aos Fiéis  4-5). Francisco toma como modelo a humildade do amor  que se  faz servo.  Deixa seu raciocínio  terreno e  se prende  à fé.

Frade menor, aglutinador de homens e mulheres  tocados pelo evangelismo franciscano:  “Viver o Evangelho no seguimento de  Cristo”  quer dizer  acolher e  implementar a Boa  Nova,  em espírito de fraternidade.  Francisco se dirige à humanidade do mundo inteiro  do presente e do  futuro e pede mudança de vida,  perseverança  na  verdadeira fé  (RNB  23,7-11).  Figura crística, única  por seus estigmas,  mas homem até  seu último suspiro, Francisco, esse louco de Deus,  expropriou-se de si mesmo, corpo, alma, espírito  para se deixar  habitar plenamente pelo  Senhor.  “E façamos sempre  habitação e morada, para Ele que é o Senhor Deus todo poderoso,  Pai,  Filho e  Espírito Santo (RNB 22, 27).

Francisco de Assis é também um profeta, um místico, um  teólogo digno de nota,  um evangelizador,  um apóstolo, um testemunha, um missionário,  um santo.  Não esqueçamos, no entanto, que ele é um  homem simples,   falível como cada um de nós e cuja imensa lucidez e fé convidam-nos a oitocentos anos e nos referir ao Evangelho.  Ele e somente ele pode  nos ajudar a responder  com confiança e coragem  aos desafios deste mundo.   Para todo  franciscano, o Evangelho é um livro de  formação  incontornável.

E a autora cita o Papa  Francisco:

“Jesus é o primeiro  e o maior evangelizador.  Em qualquer forma de evangelização, o primado  é sempre de Deus, que quis chamar-nos para cooperar  com Ele  e impelir-nos com toda a força de seu  Espírito.  A  verdadeira  novidade é aquela que o próprio Deus, misteriosamente, quer produzir, aquela que  Ele inspira,  aquela que Ele provoca, aquela que  Ele orienta e acompanha de mil e uma maneira.  Em toda a vida da Igreja, deve-se sempre manifestar que a iniciativa  pertence a  Deus,  porque Ele nos amou primeiro  (1Jo 4,15) e só Deus é que faz crescer (1Cor 3,7).  Esta convicção  permite-nos manter a alegria no meio de uma tarefa tão exigente e desafiadora  que ocupa inteiramente a nossa vida. Pede-nos tudo, mas ao mesmo tempo nos dá tudo (Evangelii Gaudium, n. 12)

Como Francisco de Assis encara sua realidade?  Sem mentira, sem transgredir com  sua consciência.  No amor. A  vida é uma questão de prioridade e a prioridade é o amor.  Ele se deixa mudar e se alimentar desse amor e o retribui  generosa e gratuitamente.  De onde ele tira esta força? Colocando no centro da sua vida a celebração eucarística. Para Francisco, Palavra, celebração e vida, estas  três dimensões constitutivas da vida cristã,  estão estreitamente ligadas  e transparecem de modo natural em sua ação.  Sua força está no fato de ter recolocado  o mistério de Cristo  no centro de sua fé.  Deus se voltou para o homem: Ele deu,  dá e se dá.  Francisco de Assis reencontra  o “mistério” (mistagogia)  caro aos Padres da  Igreja. Sua existência e sua espiritualidade  conduziram-no  a uma progressiva assimilação  e configuração ao mistério de Cristo.  Todo mistagogo  encontra seu sentido  colocando-se a serviço de Cristo –  o grande mistagogo – e de sua obra.  Esta vem  ser a razão do êxito de São  Francisco  no testemunho da caridade.

François d’Assise, Le prophète  de l’extrême, Suzanne Giuseppi Testut  Nouvelle  Cité,  Bélgica, p. 24-26

Seleção e tradução de Frei Almir Guimarães