10.06.2017

Festa da Santíssima Trindade

17814245_1489377731073244_2445109753302812135_o

Tema-Mensagem: Da autodoação mútua – AMOR – do Pai e do Filho e do Espírito Santo nascem e se consumam todas as criaturas e toda a história

Introdução

Com a solenidade de Pentecostes, encerramos, no domingo passado, as celebrações dos grandes ciclos ou mistérios da Vida e da Missão de Jesus – Natal e Páscoa. Hoje, com a abertura do ciclo do Tempo Comum, a Igreja inicia as celebrações de sua Vida e de sua Missão. Para isto, ela começa contemplando e celebrando o mistério da sua origem e da sua consumação, bem como da origem e da consumação de todas as criaturas e de toda a história: o mistério da Santíssima Trindade.

  1. A Santíssima Trindade no Antigo Testamento

A revelação do maior mistério da nossa Fé – a Trindade divina – na história sagrada, deu-se paulatinamente. São Gregório de Nazianzo dizia: “O Antigo Testamento claramente proclama o Pai e obscuramente o Filho; o Novo revelou o Filho e insinuou a divindade do Espírito, onde manifestou-se mais explicitamente”. A dinâmica da obra e da “economia” da salvação, pois, se dá de tal forma que o Pai é revelado pelo Filho e o Pai e o Filho são revelados pelo Espírito Santo (Cfr. Catecismo da Igreja Católica (CIC), 238-242; 243-248).

  • Um Deus único

 

Ao buscarmos nas páginas do Antigo Testamento a revelação de Deus, percebemos que sua prerrogativa é a de ser o Deus único: “A Israel, seu povo eleito, Deus revelou-Se como sendo único: ‘Escuta, Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças’ (Dt 6, 4-5) ” (CIC, 201).

No Antigo Testamento, poucas são as passagens que parecem insinuar o mistério da Trindade divina. Entre essas, segundo santo Agostinho, é o salmo 32,6: “Os céus foram firmados pela força da palavra de Nosso Senhor, e é do espírito de sua boca que vem toda a sua força”. Para Agostinho, a palavra do Pai celeste (“Nosso Senhor”) é o Filho unigênito, e o espírito de sua boca é o Espírito Santo. Já Mestre Eckhart entendia que este verso vinha a calhar bem para a festa da Trindade Santa, pois, dizia ele, “a Trindade Santa pode ser compreendida nestas palavras: o poder do Pai, na palavra dita ‘os céus foram firmados’; a sabedoria do Filho, ao dizer ‘na palavra do Pai’; a bondade do Espírito Santo, quando diz que ‘do espírito de sua boca vem toda a força’”.

No Antigo Testamento, o Deus único se deu a conhecer ao povo de Israel com o nome de YHWH (Yahweh) – “Eu sou aquele que sou”. Esse é o “nomen majestatis” (nome da majestade), dizia Agostinho. Este nome é uma sentença de ser, que assinala o retraimento do seu mistério: “eu sou quem sou”. Ao mesmo tempo, é uma promessa e uma garantia de fidelidade de que Ele estará sempre presente junto do seu povo em sua caminhada histórica; que será um Deus com ele e para ele, jamais abandonando-o em seu envio histórico, na sua saga de libertação. Assim, o Povo poderá fundar sua história nesta presença fiel, como antes o fizeram Abraão, Isaac e Jacó.

1.2. Deus misericordioso e próximo de seu povo

O nome com o qual Deus se revelou em seu mistério a Moisés, porém, não satisfazia aos israelitas. Estes queriam um Deus de nome definido, que nomeasse algo de tangível, definível, magicamente manipulável, semelhante aos nomes dos deuses pagãos. Movidos por este sentimento de humilhação, rompem a aliança com o Deus do nome impronunciável, inefável, escondido e põem-se em busca de um Deus sem mistério – reduzido a um ídolo (eidolon = imagenzinha). Traem, assim a aliança com o Deus misterioso preferindo seguir e adorar um deus saído de suas próprias mãos – o bezerro de ouro. Assim, sempre, o homem está entre o Deus vivo, misterioso, e o ídolo, uma divinização do que é produto de suas mãos, de sua inteligência e de sua vontade, uma projeção e uma extensão do próprio homem, que ele busca adorar. O ídolo não é o deus divino, mas um Pseudo-Deus, uma imagenzinha na qual o homem pretende representar o absoluto. Antes, era o bezerro de ouro, hoje, nossos ídolos são outras obras humanas, como o dinheiro, o mercado, a ciência, o poder, etc. Estes “valores” são, de certo modo, uma atualização do “bezerro de ouro” no deserto de nosso mundo contemporâneo.

A primeira leitura de hoje, talvez, seja a página mais expressiva da identidade de Deus revelada no Antigo Testamento, isto é, do Deus Vivo e misterioso. O Catecismo da Igreja Católica faz a seguinte consideração:

“Depois do pecado de Israel, que se afastou de Deus para adorar o bezerro de ouro, Deus atende a intercessão de Moisés e aceita caminhar no meio dum povo infiel, manifestando deste modo o seu amor. A Moisés, que Lhe pede a graça de ver a sua glória, Deus responde: «Farei passar diante de ti toda a minha bondade (beleza) e proclamarei diante de ti o nome de YHWH» (Ex 33, 18-19). E o Senhor passa diante de Moisés e proclama: «O Senhor, o Senhor [YHWH, YHWH] é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade» (Ex 34, 6). Moisés confessa, então, que o Senhor é um Deus de perdão» (CIC, 210).

No cerne do nome de Deus, revelado no Antigo Testamento, está, pois, sua misericórdia e sua proximidade. É o Deus que ouve o clamor do seu povo, que vem à história para libertá-lo de suas aflições e misérias, principalmente, da pior miséria, a de seu pecado. Há um princípio muito claro que perpassa todo o Antigo Testamento: quanto mais o povo se afasta de Deus, mais Deus o procura e se aproxima, quanto mais o povo O ofende, mais Deus se compadece e usa de misericórdia. Mestres desta revelação são os profetas. Assim, em Oseias, o povo torna-se a “bem-amada” (ruhama) que Deus, o esposo, perdoa, não obstante suas infidelidades e traições (!). A fidelidade (hesed) e a ternura entranhada (rahamin) mostram, assim, a misericórdia, com a qual Deus ama o seu povo. O mesmo profeta Oseias implora: “Senhor, tem piedade do povo que está em ti” (Os 14, 4). Mestre Eckhart, por sua vez, comenta essa passagem ressaltando a importância da misericórdia como sendo a obra mais elevada que Deus opera em favor das suas criaturas, algo tão elevado que transcende mesmo o perdão e a compaixão. Mas, o que significa esta obra? Resposta: “significa que Deus transpõe a alma para o mais elevado e o mais puro que ela pode receber: para a amplidão, para o mar, para um mar insondável, lá onde Deus opera misericórdia. Por isso, diz o profeta: ‘Senhor, tem piedade do povo que há em ti’ (Populi eius qui in te est, misereberis)” (Mestre Eckhart. Sermão Alemão 7).

2. Bendito o Pai, bendito o Filho e bendito o Espírito Santo

A celebração da solenidade de hoje começa com um breve, mas expressivo e comovente “Bendito”: “Bendito seja Deus Pai, bendito o Filho unigênito e bendito o Espírito Santo. Deus foi misericordioso conosco” (Ant. de entrada). A Igreja, reverente e jubilosa, põem-se, então, de pé para contemplar, adorar e acolher o mistério originário e final de todos nós, da criação e da história toda: o mistério dos mistérios, a Trindade Santa.

2.1. Nossa habitação

Costumamos entender mistério como aquilo que não compreendemos, aquilo que excede nossa razão. Por mais que isso seja correto, esta compreensão, não desvela o essencial de nosso relacionamento com o mistério e do mistério conosco. É que o mistério não concerne somente à razão do homem, mas ao homem todo. O mesmo diga-se da revelação: não é somente a comunicação de discursos, mas, antes e acima de tudo, a autocomunicação, isto é, a autodoação d’Aquele que se revela ao homem todo e a todo o homem. Assim, o mistério da Santíssima Trindade é empenho, esforço, devoção e dedicação que as Três pessoas divinas fazem, ou são, de se autodoarem, sempre, de novo e inteiramente ao homem, esperando dele apenas sua recepção; uma recepção que se deixa abraçar por Ele numa comunhão de vida amorosa.

Geralmente falamos que pelo batismo a Santíssima Trindade começa a morar em nós. Mas, podemos e devemos dizer, ao mesmo tempo, que nós também passamos a habitar junto ou dentro da Trindade divina como a nossa origem, nossa casa paterna, nosso lar. É por isso que nós cristãos nos habituamos a em tudo que fazemos, principalmente no sacramento eucarístico, iniciar com a invocação: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!”. Ou com a doxologia: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo!”. São Francisco faz deste mistério originário a Vida e a Regra dele e dos Irmãos de sua Ordem: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo! Esta é a vida e a Regra dos Irmãos…” (RNB, Pro). Por isso, também e depois, é com esta mesma invocação e doxologia que principia e termina quase todos os seus escritos. Foi também movido pela devoção às Três Pessoas divinas que, desejoso de encontrar as passagens do Evangelho, que devia seguir e viver, abriu por três vezes o livro sagrado (Cf. LTC 29,4).

2.2. A solenidade das solenidades

Paulo, na 2ª leitura de hoje, tirada da 2ª Carta aos Coríntios, exorta-nos a ter entre nós os mesmos sentimentos e a viver em paz. E diz: “E o Deus da paz estará convosco” (2 Cor. 13, 11). Mestre Eckhart vê nesta sentença a marca da Trindade. “Deus”, diz ele, aqui, “significa a pessoa do Pai”. De fato, na Sagrada Escritura, o nome Deus se refere, antes de tudo, ao Pai. E o motivo, segundo Agostinho, é que o Pai é o fundamento de toda a deidade. A expressão “de paz”, por sua vez, se refere ao Filho, pois “Ele é a nossa paz” (Ef 2, 14). E Pai e Filho, enfim, se amam no Espírito Santo. “O amor com que se amam Pai e Filho é o Espírito Santo mesmo”.

Depois desta sentença vem a saudação: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco” (2 Cor 13, 13). Por seu rico e profundo sentido trinitário, a Igreja propõe esta saudação como uma das saudações para o rito de acolhida dos fiéis na missa. Três são as coisas aqui desejadas por São Paulo aos coríntios e hoje a nós:

a graça do Senhor Jesus Cristo. A graça (cháris), em primeiro lugar, é o vigor da inocência que nos justifica da culpa, que é o pior dos males (cfr. Tito 3, 7). E, segundo Agostinho, justificar um ímpio é algo maior do que criar céu e terra. E aqui, evidentemente não se pode deixar de pensar na graça que nos advém pela Paixão de Cristo e de sua crucificação; graça que torna quem a recebe “filho de Deus”, “cristão” e “irmão de Cristo”. E isto não é pouco. É tudo!

o amor do Pai. Aqui não se trata de qualquer amor, mas do amor “do Pai”, o amor-caridade (agápe). Quem, agradecido e jubiloso canta e decanta o modo de ser deste amor é Paulo (Cf. 1 Cor. 13). Este amor é paciência, é prestimoso e prestativo; não é ciumento, não se vangloria, não se infla de soberba; não age de modo indecoroso, não procura as coisas próprias, não fica ácido e irritadiço; não fica remoendo o mal, não se alegra com a injustiça, se regozija com a verdade; tudo cobre no perdão, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

a comunhão do Espírito Santo. É a terceira quota que que nos é oferecida através dessa saudação paulina. Esta comunhão não é outra coisa senão o amor comum do Pai e do Filho que então é derramado em nossos corações e em todas as criaturas. É o Dom em que ambos mutuamente se doam. Pois bem, diz São Paulo, esta máxima doação, máxima comunhão se dá na máxima comunicação do Sumo Bem. De fato, diz São Boaventura, se é verdade que “o bem tende, por natureza, a difundir-se”, com mais forte razão se pode dizer que “é, pois, próprio do sumo Bem, difundir-se sumamente”. A difusão do bem aparece, porém, duplamente, como o mistério da vida da Trindade, em que Pai e Filho e Espírito Santo se comunicam intimamente na dinâmica do amor, e como o mistério da ação de Deus “ad extra” (para fora), em que a difusão do bem “se derrama e se exterioriza” na produção das criaturas, na encarnação e na redenção do homem, de modo a reconduzir tudo o que foi criado para dentro do mistério da vida íntima de Deus, a vida trinitária. “O Bem da unidade circula eterna e incriada, para dentro, na Trindade, e se comunica temporal e livre, para fora na criação. É a unidade da Trindade que nos cria. Eckhart nos diz, junto com toda a experiência cristã: ad extra ex tribus: toda atividade para fora é criadora, vem e vive do Três” (Carneiro Leão, Emanuel. A mística de Eckhart em Eckhart).

Assim, com esta saudação paulina, somos convidados, cada vez mais e melhor, a contemplar e a dispor-nos para receber o mistério dos mistérios: a comunhão, o sagrado convívio com a comunidade Tri-una: Pai-Filho-Espírito Santo.

Por isso e para isso São Francisco exortava seus frades: “E preparemos dentro de nós uma habitação e uma mansão para Ele que é o Senhor Deus, onipotente, Pai e Filho e Espírito santo” (RNB 22,27).

 2.3. Deus amou tanto o mundo

Na perícope do Evangelho, que se lê hoje, Jesus, depois de falar a Nicodemos da necessidade de nascer da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus, acrescenta: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigênito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).

 O sumo, pois, da revelação do ser de Deus – Amor-Ágape-Sacrifício – está na obra da cruz, em que o Pai entrega o seu Filho Unigênito ao mundo – isto é, aos homens por Ele criados, que se fecharam no amor de si e no desprezo de Deus. Deus, porém, ao contrário, em vez de fechar-se à sua criatura ou condená-la por esse pecado, como o “sumo Deus, que é todo o bem, o sumo bem, o bem inteiro, o único bem” (São Francisco, LH), sai de Si, vai ao seu encontro a fim de que seja encontrada e reconduzida para a sua casa. Mas, para isto é preciso crer: “Quem nele crê, será salvo por Ele”. Crer aqui significa confiar-se, entregar-se a Ele, à sua cruz, à sua mensagem de perdão e de misericórdia, como a criança se confia e se entrega nos braços do pai ou da mãe.

Assim, se a encarnação é a suma obra de Deus Trindade, a paixão e morte na Cruz é a culminância desta culminância. Ao entregar-nos o seu Filho, deixando que nós o matássemos, ele se entrega a si mesmo a nós. O Pai como que “se mata” para que nós possamos recebe-lo em sua entrega, em seu amor e, nessa recepção, possamos nós também doar-nos a Ele e assim sermos salvos, tornando-nos um com Ele, felizes, bem-aventurados.

2.4. Crer para ser salvo

No Evangelho de hoje, Jesus termina seu discurso falando da necessidade da fé no Filho unigênito do Pai a fim de ser salvo: “Quem nele crer não será condenado”. Crer em Jesus implica acolher o Pai com seu desígnio amoroso de entregar-nos até a morte e morte de cruz seu Filho unigênito a fim de que Nele também nós sejamos seus filhos muito amados; significa acolher o Espírito Santo que Ele, Jesus, nos mereceu e enviou, para que assim não apenas não sejamos órfãos, mas possamos viver no e do vigor daquele que venceu o mundo.

São Francisco ao reger a missão dos frades entre os sarracenos e outros infiéis, ordena que em tudo e sempre vivam “espiritualmente”, isto é, segundo o Espírito. Para isto, primeiramente, insiste para que “não entrem em litígios nem em contendas, mas sejam súditos  de toda humana criatura por causa de Deus e confessem serem cristãos” (RNB 16,5). Depois, “quando virem que agrada ao Senhor, anunciem a palavra de Deus para que creiam em Deus onipotente, Pai e Filho e Espírito Santo, Criador de todas as coisas, no Filho redentor e salvador, e que sejam batizados e se façam cristãos, porquanto quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus” (RNB 16,7).

Assim, mais que acreditar, crer significa confiar-se, entregar-se a quem nos amou por primeiro. Neste sentido crer é “nascer com” e “crescer em”. Assim, quando no casamento os esposos, movidos pelo mistério da graça do encontro, pelo qual eles “co-nascem” desde a gratuidade do amor, começam a crer, a confiar um no outro, na verdade eles estão crescendo um com o outro e um no outro ao ponto de no fim da vida serem uma só carne. Assim, mas em grau de profundidade, júbilo e beleza infinitamente maior, se dá com a profissão da nossa fé: Nascemos e crescemos em Deus Pai… somos gerados e crescemos em Deus Filho… somos gerados desde e crescemos no Espírito Santo… enfim, nascemos e crescemos na Santíssima Trindade… até que, pela nossa morte, retornando a ela, em nossa páscoa (transitus = passagem), nela nos consumemos e nela vivamos eternamente.

No santuário de Trindade, em Goiás, há um medalhão, em que Maria é introduzida no mistério da comunhão do Pai e do Filho e do Espírito Santo. É coroada pelo Pai e pelo Filho e sobre ela paira o Espírito Santo. Maria representa, ali, todos nós, que somos batizados para dentro do nome – isto é, da presença e vigência – do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Representa, em última instância, toda a humanidade e toda a criação, que, nela e com ela, são trazidas para dentro deste mistério simples e, ao mesmo tempo, trinitário, de Deus Pai e Filho e Espírito Santo.

É muito comum e frequente que, em certas ocasiões, ao cantarmos o hino nacional, nosso coração estremeça, por ser um símbolo de nossa nação e de nossa pátria. O que não deveria acontecer, então, quando de pé, como Povo de Deus, perante nosso símbolo maior, a Cruz, professamos, alto e bom som: “Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador do céu e da terra e de todas as coisas visíveis e invisíveis… Creio em Jesus Cristo seu Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos… Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho…” (Símbolo niceno-constantinopolitano)!!!

Conclusão

Na verdade, o mistério da Trindade divina toca na raiz de cada criatura e de toda a história. Quem ultimamente demonstrou com clareza este entrelaçamento universal foi nosso Papa Francisco. Diz ele que “O Pai é a fonte última de tudo, fundamento amoroso e comunicativo de tudo o que existe. O Filho, que O reflete e por Quem tudo foi criado, uniu-Se a esta terra, quando foi formado no seio de Maria. O Espírito, vínculo infinito de amor, está intimamente presente no coração do universo, animando e suscitando novos caminhos. […] Por isso, «quando, admirados, contemplamos o universo na sua grandeza e beleza, devemos louvar a inteira Trindade»” (LS 328). Nela está o nosso princípio. E, o nosso princípio é o nosso fim, nossa destinação última, para o qual nos encaminhamos em nosso trânsito, em nossa passagem ou travessia da vida. Todos somos, assim, no fundo, com todo o universo, peregrinos da Trindade.

A seguir, o mesmo Papa nos convoca ao desafio de tentar ler todas as criaturas, toda a realidade em chave trinitária. Para isto ele se baseia em São Boaventura segundo o qual “cada criatura testemunha que Deus é trino” e que, por isso, “toda criatura traz em si uma estrutura propriamente trinitária” (LS 239).

O Pai pode ser contemplado quando olhamos o como e o quanto as criaturas levam adiante com fidelidade a ordem Dele “Crescei e multiplicai-vos…”; o Filho quando olhamos o como e o quanto as mesmas “criaturas servem, conhecem e obedecem ao seu Criador” seguindo as leis de sua natureza (São Francisco, Ad 5); o Espírito Santo quando contemplamos o como e o quanto o universo inteiro vive unido, entrelaçado numa grande comunhão de diferentes e diferenças.  

Por isso, acrescenta o Papa, além de ler as criaturas em chave trinitária precisamos também buscar nelas “uma chave de nossa própria realização … pois, na verdade, a pessoa humana cresce, amadurece e santifica-se tanto mais, quanto mais se relaciona, sai de si mesma para viver em comunhão com Deus, com os outros e com todas as criaturas” (LS 240).

E conclui o Papa: “Tudo está interligado, e isto convida-nos a maturar uma espiritualidade da solidariedade global que brota do mistério da Trindade” (idem).

Fraternalmente,

(Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini, ofm)