- No livro dos Exercícios Espirituais, Santo Inácio propõe várias maneiras de entrar em tempo de oração. Uma delas é bastante simples, mas pode parecer estranho: Considerar como Deus, nosso Senhor, me olha. No entanto, o olhar de Deus nunca é frio e julgador, mas é sempre compassivo; olhar que pacifica e harmoniza todo o nosso ser.
- Sinta, por uns instantes, o olhar amoroso de Deus sobre você.
- Ao sentir-se envolvida por este olhar, crie um ambiente interno e externo de silêncio e escuta amorosa.
- Peça a Deus a graça de participar dos sentimentos de Jesus, às vésperas de sua morte.
- Leia, devagar, as indicações a seguir; elas podem criar um clima favorável pra a contemplação.
Como ontem, você é convidada a participar de outra ceia de despedida. A ceia de Betânia foi rica em símbolos de amor, de amizade, de festa…um esbanjamento de humanidade. A ceia de hoje (em Jerusalém) é marcada por uma comoção profunda, em que Jesus se vê traído, vendido, enganado e abandonado por aqueles que juravam fidelidade e amizade profunda. Esta noite, Jesus começou a sentir que estava sozinho, É o sentimento mais duro e doido que alguém pode passar.
Durante as contemplações dos mistérios da Paixão e Morte de Jesus, um personagem vem sempre à nossa lembrança: Judas Iscariotes. Reagimos negativamente ante sua traição a Jesus, mas no fundo ele nos causa repulsa porque é projeção das nossas infidelidades e traições. Ele é o espelho no qual nos vemos.
Mas o que vem a ser a traição? Como ela se manifesta na nossa vida? Porque traímos a confiança do outro?
A palavra trair vem do latim tradere, que significa entregar, enganar, denunciar ou delatar.
Mas ela pode ser pensada também no sentido de “quebrar” um contrato, um projeto, um objetivo, trazendo mudanças de planos, estratégias ou ideais.
O ato de trair implica romper um pacto que o sujeito fez com o outro e consigo mesmo. Trair é uma ação que implica consequências, e, quando se fala de relacionamento humano, envolve sofrimento e sensação de abandono, gerando um estado de desconfiança generalizada naquele que foi traído.
Traição dói na proporção inversa da distância. Quanto mais próxima se sente a pessoa traidora, tanto maior a dor do traído. A traição se situa no mundo das amizades, das vinculações afetivas intensas, das ligações íntimas, das proximidades de vida.
Judas se tornou o símbolo da traição porque fazia parte do grupo íntimo dos apóstolos.
Foram anos de convivência nas mesmas caminhadas, nas noites ao relento, nas pregações, nas refeições simples do dia a dia e nas festas. Enfim, Jesus e Judas viviam elos de amizade, de confiança, de esperança entre si.
De repente, rompe-se tal aliança e Judas entrega Jesus aos adversários.
Com a traição, Judas passou da amizade para a decepção, para a desilusão, para a perda de vinculação. Processo lento que foi minando o coração, até que ele se corrompeu, a ponto de renegar a amizade e trair.
- Com a imaginação faça-se presente na Última Ceia: olhe, escute, observe e participe deste momento tão denso, deixando-se impactar pelos gestos e palavras de Jesus.
- Sinta um clima pesado. Jesus se comove profundamente. E não era para menos. Enquanto ele está fazendo aquele gesto de serviço e de total entrega de si mesmo, ao lado dele um discípulo está tramando uma maneira de traí-lo naquela mesma noite. Jesus expressa a sua comoção e diz: Em verdade lhes digo: um de vocês vai me trair! Não diz: Judas vai me trair, mas um de vocês. É alguém do círculo da amizade dele que vai ser o traidor.
- Escute Jesus que diz em voz alta o que todos estão sentindo: Filhinhos, por pouco tempo ainda estou convosco. Fala com ternura. Quer que suas últimas palavras e gestos fiquem gravados no coração de todos nós.
- Converse com o Senhor: uma conversa feita mais de presença que de palavras.
- Diante de “Jesus traído”, recorde experiências pessoais de traição: quando foi traída? Quando traiu? Como se sentiu?
• Termine a oração fazendo a revisão dela e anotando as moções que brotaram do encontro com Jesus na Última Ceia.