15.10.2020

Carta de uma Religiosa pelo dia de Santa Teresa de Ávila

 

Escreve Justa del Sol Hernando, irmã espanhola, das Oblatas do Santíssimo Redentor, em carta publicada por Religión Digital, 15-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo. (Publicada pelo Instituto Humanitas)

“Querida Teresa de Ávila: mais um ano em que celebramos teu dia, 15 de outubro, com carinho e admiração, e neste ano de 2020, em contexto de pandemia. Mas segues sendo nosso espelho, no qual sempre nos olhamos.

Ninguém como tu, querida Teresa, pode nos inspirar a caminhos renovados e estilos de vida transformadores. Ninguém como tu, pode nos ensinar a chave da inovação criadora que sonhamos hoje na vida religiosa. “Tempos difíceis” para a aventura do Espírito.

Nem te entendiam, nem apoiavam tuas buscas… toda a tua vida está atravessada pelo inconformismo e o risco de ser mulher crente. Entre obediência e transgressão. E assim consolidas tua fé, de mulher “inquieta e andarilha”, porém com os olhos bem abertos à Realidade que te envolvia e a tua intuição de mulher.

Não te conformaste em viver no Convento da Encarnação. Teu coração desejava Caminhos Novos, para recriar, e fundar “outras formas de vida de Carmelita”. Conformar-se ao que tinha, para ti, era começar a morrer. E “se resignar e se adaptar” era impróprio de tua grande fé e teu espírito inquieto e buscador.

Tua singularidade não era para um convento “massivo” e uniforme, onde os sentimentos não se expressam e a irmandade não se sente. Tua primeira Fundação, o Convento de São José, recriara um pequeno cenáculo: “e desde agora as comunidades não serão numerosas, para facilitar relações de fraternidade… e se viverá o silêncio…. e em um estilo de vida austero e simples”.

Bendita sejas, Teresa, mulher valente e empreendedora. Reformadora incansável pelos conventos e caminhos de Castilla. Bendita caminhada. Mulher de espírito. Humanista e criadora do novo. Também a Vida Religiosa de hoje está necessitando de Reformas, das estruturas e valores, que nos façam viver desde nosso próprio dom e carisma, o Evangelho de Jesus, porém, ao mesmo tempo, também observamos com tristeza, que se assoma a Contrarreforma no seio das próprias Congregações

Precisamos crescer em políticas de igualdade, de comunhão e participação, e onde a liderança de cada pessoa seja valorizada e compartilhada para riqueza de toda comunidade grupal, eclesial ou social. Poder viver em chave sinodal, na qual tanto insiste o papa Francisco.

Gracias Teresa, por despertarmos mais uma vez no teu dia, e nos contagiar a paixão pelo Deus vivo de Jesus. Hoje nós também necessitamos “recuperar Jesus”, voltar às fontes originais do essencial, do Evangelho, e recuperar a alma da Vida Consagrada, o sentido da Missão e a verdadeira Fraternidade.

Livra-nos do conformismo. Será, esse, fruto do cansaço? Livra-nos Teresa da ausência de busca e da instalação acomodada… Necessitamos de ti hoje mais que nunca, para poder passar a “outras margens e curar feridas” …

Tua experiência é a revolução mística, a qual não entendiam os “experts” do teu tempo. E este é o segredo que colocará a muitos, a palavra “experiência”. Tão sagrada, tão sagrada, que é a dignidade e o respeito a cada pessoa.

Teu Deus é o Deus “da vida e da experiência”, (não do livro ou do conceito). Que maravilha poder descobrir este Deus, e não morrer tentando! “Nada te perturbe, nada te espante… Basta Deus, só Deus”.

Se voltasses, Teresa, o que contribuirias à sociedade, à Igreja, às Congregações? Se voltasses, Teresa, acompanharias os processos pessoais, seria a grande Mistagoga na caminhada das pessoas, porém também daria quatro vozes em conventos, Igrejas e governos, civis e religiosos.

Se voltasses, Teresa, viveríamos contigo a mística do Amor e da Justiça: “uma coisa te falta: praticar a justiça, amar com ternura, e caminhar humildemente com teu Deus”. Se voltasses, Teresa, farias uma valente e inovadora leitura, a partir da pandemia, da Laudato Si’ ou da Fratelli Tutti para uma Nova Vida Religiosa Feminina, que humaniza e serve.

Ensina-nos o amor, Teresa, irmã Teresa. Devolve-nos a alegria de mulheres inquietas e buscadoras. É a hora de nossa hora!”

Santa Teresa de Ávila, roga por nós! “Contagia-nos a paixão pelo Deus vivo de Jesus”

Por sua intercessão, Santa Teresa,  Deus abençoe e faça frutificar as sementes da Cultura, da Paz e do Bem, lançadas pelo  trabalho dedicado e missionário de  tantas Irmãs Franciscanas de Ingolstadt-Professoras- de ontem, de hoje, do futuro! 

(Ir. Romana Rossetto)