06.03.2021

A Lei e o Templo

Joa_Souza – Istock

Em nossas casas, costumamos limpar todos os dias. Assim mesmo, de vez em quando, sentimos a necessidade de uma limpeza geral… lavamos as paredes… o teto… os vidros… para tirar o mofo que foi se acumulando… A Quaresma também é um tempo de purificação propício para renovar nossa vida cristã e purificar o nosso coração daquelas impurezas que foram se acumulando ao longo do tempo.

As leituras bíblicas tratam de dois pontos fundamentais da religião judaica: a Lei de Deus e o Templo, que, com o passar do tempo, também estavam precisando de uma purificação… Cristo se apresenta como a nova Lei e o novo Templo.

Na 1a Leitura Deus entrega a LEI, num contexto de êxodo e de Páscoa, como parte de uma Aliança. (Ex 20,1-17)

– É um momento fundamental na história da Salvação. Deus se apresenta desde o começo como Libertador: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou da escravidão do Egito”. Os 10 mandamentos brotavam do amor de um Deus “Libertador”, que depois de ter libertado seu povo da escravidão material do Egito, queria libertá-lo também da escravidão moral das paixões e do pecado.

– Deus não deu as leis do Decálogo para serem um atentado contra a liberdade humana. Pelo contrário, para que os homens sejam livres e respeitem a liberdade dos outros.

– Os Mandamentos indicavam o caminho seguro para ser feliz e ser o Povo da Aliança, colaborador de Deus no Plano da Salvação…

– Mas Israel não foi fiel a esse compromisso: muitos abusos e desvios esvaziaram o verdadeiro sentido do decálogo…

– Era necessário restaurar a antiga Lei, completá-la, aperfeiçoá-la… sobretudo no sentido do amor e da interioridade… libertando-a de todo formalismo. Precisava uma Nova Aliança, uma NOVA LEI. É o que Cristo veio realizar: “Não vim suprimir a Lei… mas completar, aperfeiçoar…”

Na 2ª Leitura, Paulo afirma que seu projeto de Salvação passa pela morte na cruz: “Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1Cor 1,22-25) A Cruz de Cristo pode parecer loucura e sinal de fraqueza. Todavia, Deus transformou a cruz em sabedoria e caminho de salvação.

No Evangelho, Jesus se apresenta como o NOVO TEMPLO(Jo 2,13-25) O Templo era um lugar muito sagrado para os judeus. Todo judeu devia ir ao templo, ao menos uma vez por ano, para oferecer um sacrifício a Deus. Estas ofertas para os sacrifícios faziam girar muito dinheiro… e provocavam abusos e exploração. O gesto ‘VIOLENTO” de Cristo não é apenas zelo de purificação do templo. É anúncio da abolição do velho templo e do culto aí celebrado. O antigo templo já tinha concluído a sua função. Surgirá um novo templo, não construído de pedras e por mãos humanas, mas o “lugar da Presença” viva de Deus: JESUS CRISTO. Passamos do templo de pedra (projeto de Davi e realizado por Salomão) ao Templo sonhado pelos profetas (fonte de vida e luz para todos os povos), para chegar ao Senhor ressuscitado, o templo verdadeiro em quem Deus manifesta a sua glória em favor de todos os homens. Caminhamos todos para um “templo definitivo”, que se identifica com o mundo inteiro, quando esse se converte em casa do Pai, isto é, a casa onde todos os homens se reconhecem irmãos.

Jesus nos convida a sermos templo no qual está presente Deus e nele se oferece um verdadeiro culto em espírito e verdade..

Qual o Templo que devemos purificar?

– Nosso coração deve ser um sinal de Deus para os irmãos.

– Nossas comunidades devem dar testemunho da vida de Deus.

– A Igreja deve ser essa “Casa de Deus” onde as pessoas podem encontrar a proposta de libertação e de Salvação que Deus oferece a todos.

– O “Culto”, que Deus aprecia, deve ser uma vida vivida na escuta de suas propostas e traduzida em gestos concretos de doação, de entrega, de serviço simples e humilde aos irmãos.

– Jesus purificou o templo de seus profanadores e nos convida a purificar também o templo de nosso coração.

* Qual a nossa atitude diante da Lei de Deus?

   É uma cerca que nos prende ou um caminho seguro para uma vida feliz?

* Qual o respeito que temos na casa de Deus… (antes, durante, depois…)

   – Se Cristo voltasse hoje às nossas igrejas… o que aconteceria? A quem deveria expulsar com o chicote?

A Campanha da Fraternidade nos lembra outro templo sagrado, profanado pelo orgulho religioso que levanta muros que produz divisões… Cristo deseja sua Igreja unida, num só coração e numa só alma…

Essa celebração deve nos levar a refletir sobre o ESPÍRITO com que vivemos a nossa religião: diante da Lei de Deus, nas práticas religiosas de nossa religião e no respeito à pessoa humana !… Só assim o nosso culto será realmente agradável a Deus!

Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa – 07.03.2021