10.11.2022

Entendendo as práticas do jejum

Somente mantendo o coração aberto para as inspirações de Deus, podemos avançar em nosso conhecimento e amadurecimento espiritual. E, neste artigo, entenderemos um pouco mais sobre as práticas do jejum.

A prática do jejum e da abstinência incentivam a conversão e o desejo de mudança no coração dos fiéis, afastando de si o que atrapalha a graça do encontro com Deus.

Um sinal externo da conversão do coração, da mudança de vida, da transformação da própria vida.

O jejum é um ato voluntário de abnegação, uma disciplina espiritual. Em resumo, o jejum é uma maneira de crescermos espiritualmente, em nosso amor à Deus e ao próximo. 

Permite que nossos corações se abram, para que Jesus possa adentrá-los mais profundamente, permitindo a transformação e santificação das nossas vidas. O jejum é uma forma de luta contra o egoísmo.

Os cristãos são chamados, portanto, a refletir sobre esse sacrifício, negando a si mesmos o que dificulta o encontro com o Sagrado e com os irmãos. 

O jejum e a abstinência na Bíblia

As práticas de jejum e abstinência são uma parte importante da tradição e da história do catolicismo. Elas se originam em resposta ao pecado original, que foi o motivo pelo qual Deus colocou o homem no Jardim do Éden.

Mas o fez com uma proibição: não comeriam das árvores do jardim. O pecado original levou à expulsão do homem para fora do paraíso terreno. 

No Antigo Testamento

No Antigo Testamento, os antigos israelitas observaram um jejum anual durante a primavera. Ele foi chamado de “O Jejum do Senhor” ou o “Dia da Expiação”.

Duravam 24 horas (do pôr ao pôr do sol) e muitas vezes eram acompanhados de abnegação e arrependimento. 

Além desse jejum anual, havia também outros tipos ocasionais de períodos de jejum, que eram declarados em resposta a circunstâncias específicas, como quando um inimigo estava invadindo Israel (1 Samuel 7,6-11).

No Novo Testamento

Na Nova Aliança, foi uma prática ensinada pelo Senhor aos seus servos, Ele ensinou os apóstolos a se abster do alimento por determinados períodos.

O jejum mais lembrado é aquele em que Jesus passou 40 dias e 40 noites no deserto, antes de iniciar sua Missão.

“O jejum, a oração e a esmola, tal como são apresentados por Jesus na sua pregação (cf. Mt 6, 1-18), são as condições para a nossa conversão e sua expressão. O caminho da pobreza e da privação (o jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa”, nos ensina o Papa Francisco.

O jejum na história da Igreja

A Igreja tem uma rica tradição de jejum. São João Vianney observou, durante a Quaresma,  um jejum total desde a Quarta-feira de Cinzas até a Páscoa a cada ano.

Além de jejuar em épocas específicas do ano, como os católicos fazem hoje, a Igreja primitiva também praticava a abstinência de carne às quartas e sextas-feiras, bem como em outros dias do ano.

Em seu ensinamento sobre o jejum, a Igreja orienta que deve ser um ato de penitência e abnegação:

“O jejum nos permite participar da própria mortificação de Cristo, que é um aspecto de seu sacrifício redentor por nós; pela nossa própria mortificação corporal podemos participar da Sua Paixão” (Catecismo 1749).

O jejum serve como uma forma de penitência quando nos abstemos de comida ou bebida para expiar nossos pecados, pedir perdão a Deus ou força para resistir à tentação (1751).

Além de seus benefícios espirituais, ainda ajuda a nos mantermos conscientes de que somos participantes da criação de Deus e nos lembra o quanto realmente dependemos Dele (1752).

Conclusão

Jejuar significa libertar a nossa existência de tudo o que a atravanca, inclusive da saturação de informações, verdadeiras ou falsas, e produtos de consumo, a fim de abrirmos as portas do nosso coração Àquele que vem a nós pobre de tudo, mas ‘cheio de graça e de verdade’ (Jo 1, 14): o Filho de Deus Salvador.

Além disso, vivido como experiência de privação, leva as pessoas que o praticam com simplicidade de coração a redescobrir o dom de Deus e a compreender a nossa realidade de criaturas que, feitas à sua imagem e semelhança, n’Ele encontra plena realização.