26.01.2017

Fonte de misericórdia

Beautiful girl in depression sits on the brick wall background
Beautiful girl in depression sits on the brick wall background

 

A parábola evangélica (Lc 18,1-8) contém um ensinamento importante: “A necessidade de se rezar sempre, sem jamais se cansar” (v.1). Portanto, não se trata apenas de rezar algumas vezes quando sinto vontade. Não, Jesus diz que é preciso “rezar sempre sem jamais se cansar”. E apresenta o exemplo da viúva e do juiz

O juiz é um personagem poderoso, chamado a emitir sentenças baseadas na Lei de Moisés. Por isso a tradição bíblica recomendava que os juízes fossem pessoas tementes a Deus, dignas de fé, imparciais e incorruptíveis (Ex 18,21). Ao contrário, este juiz “não temia a Deus, nem respeitava homem algum (v. 2).Era um juiz iníquo, sem escrúpulos que não observava a Lei, mas fazia o que queria, segundo seu interesse. A ele se dirige uma viúva para ter justiça. As viúvas, junto com os órfãos e os estrangeiros eram as categorias mais frágeis da sociedade. Os direitos assegurados a eles pela Lei podiam ser pisados com facilidade porque, sendo pessoas sozinhas e sem defesa, dificilmente recebiam apoio; uma viúva, ali sozinha, ninguém a defendia; podiam ignorá-la, não eram justos com ela. Assim também o órfão, assim o estrangeiro, o imigrante… Naquele tempo era muito forte esta problemática. Diante da indiferença do juiz, a viúva recorre a sua única arma; continuar insistentemente a importuná-lo, apresentando-lhe seu pedido de justiça. E justamente com esta perseverança, alcança o objetivo. O juiz de fato, em um certo ponto a escuta, não porque é movido por misericórdia, nem porque a consciência o impõe; simplesmente admite: ”mas esta viúva já está me importunando. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha, por fim, a me agredir” (v.5). Desta parábola  Jesus tira duas conclusões; se a viúva conseguiu dobrar o juiz desonesto com seus pedidos insistentes, quanto mais Deus, que é o Pai bom e justo ”não fará justiça aos seus escolhidos que dia e noite gritam por ele?”; e além disso, não ”vai fazê-los esperar”, mas agirá “bem depressa” (v 7-8).

Por isso, Jesus exorta a rezar “sem jamais se cansar”. Todos experimentamos momentos de cansaço e desânimo, principalmente quando nossa oração parece ineficaz. Mas Jesus nos garante, diferente do juiz desonesto: Deus ouve prontamente seus filhos, mesmo que isso não signifique que o faça nos tempos e nas maneiras que nós queremos. A oração não é uma varinha mágica! Ela ajuda a conservar a fé em Deus e a confiar n’Ele, mesmo quando não compreendemos a sua vontade. Neste sentido, o próprio Jesus – que rezava muito! – é um exemplo para nós.

A parábola termina  com uma pergunta: ”mas o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a terra?” (v 8). E com esta pergunta todos nos colocamos em vigilância; não devemos desistir da oração, mesmo que ela não seja correspondida. É a oração que conserva a fé, sem ela a fé vacila!  Peçamos ao Senhor uma fé que se faz oração incessantemente perseverante, como aquela da viúva da parábola, uma fé que se nutre do desejo da sua vinda. E na oração experimentamos a compaixão de Deus, que, como um Pai, vem ao encontro de seus filhos, pleno de amor misericordioso. (Papa Francisco)