29.04.2017

3º DOMINGO DA PÁSCOA

Evening road in Val d'Orcia - Tuscany - Italy

 

Introdução

Hoje, 3º domingo da Páscoa, celebramos o novo modo de Jesus estar e viver conosco: o de peregrino e forasteiro. Este modo vem expresso numa das mais belas e comovedoras passagens do Evangelho: a história dos discípulos e peregrinos de Emaús.

  1. Discípulos peregrinando abatidos

 Como nos dois domingos anteriores, também hoje, o evangelho começa com esta constatação: “Naquele mesmo dia, o primeiro da semana…” Este primeiro dia é o dia da Ressurreição. Mas, o evangelista faz questão de chamá-lo de “primeiro dia da semana” porque vê nele uma relação muito expressiva com o primeiro dia da semana da criação. Em outras palavras, com esta menção, quer dizer simplesmente que agora, com o mistério pascal, estamos diante de uma nova criação. Se outrora, na primeira, o homem foi criado a partir do barro, da terra, de baixo, deste mundo, agora, na segunda, o novo homem é nascido do alto, do espírito, do sopro expirado do peito de jesus, na cruz. Se o primeiro homem era terrestre o novo é celeste, divino; se o primeiro se regia pelas leis da natureza este se regerá pelo espírito de Jesus crucificado-ressuscitado, a misericórdia do Pai.  No primeiro Adão – alma vivente – nós nascemos para a vida mortal e morremos a morte vital a cada dia, desde o útero até o túmulo. No segundo e último Adão, isto é, Cristo – espírito vivificante – nós morremos para o pecado enquanto doença mortal e para a morte enquanto separação de Deus, e nascemos para a vida eterna em Deus. Somos, assim, destinados para a vida eterna e a ressurreição, no dia oitavo, isto é, no dia sem ocaso da nova criação. A ressurreição de Cristo é o penhor desta nova criação. Desde o nosso batismo já participamos dela. E a eucaristia é o pão da vida eterna, que recebemos como viático (farnel – provisão para a via, melhor, para a viagem) enquanto, neste mundo, somos peregrinos e forasteiros, a caminho da terra pátria no Reino de Deus, da morada na casa do Pai.

1.1.Voltando de Jerusalém para Emaús

Na Sagrada Escritura, principalmente nos Evangelhos, as narrativas, querem mostrar uma realidade que vai além dos fatos e das ocorrências, uma realidade que vale para todos os homens e para todos os tempos. Assim, tudo o que aconteceu com aqueles dois discípulos que, depois da crucificação de Jesus, voltavam de Jerusalém para seu povoado, vale também para nós hoje. No exemplo da experiência deles está, pois, incluída a experiência universal, a saber, a experiência do todo da Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus, a experiência de todos os que creem no Cristo Crucificado e Ressuscitado. Assim, como eles, todos somos peregrinos cegos, tristes, abatidos enquanto não tivermos a experiência do (re)encontro com Jesus Cristo ressuscitado.

Segundo a narrativa, eles estavam apenas a meio caminho entre Jerusalém e Emaús. Isto significa que haviam percorrido apenas a metade, meio caminho da fé. Haviam acompanhado Jesus apenas no nível humano. Por isso, para eles tudo havia acabado na tarde daquela sexta-feira quando Jesus morreu, vergonhosamente, na cruz. Seu abatimento não era apenas por causa de Jesus, mas principalmente porque viam frustradas todas as suas expectativas de um reino terrestre do qual esperavam receber benefícios pessoais.

 Precisavam perfazer a outra metade do caminho, isto é, chegar não somente à notícia da ressureição, mas também à sua experiência íntima, partilhada, comungada, feita no coração. Eles se doíam e se lamentavam do fim que teve Jesus, mas ainda não se alegravam com sua ressurreição. Assim, a boa nova da alegria acerca do Crucificado ainda não tinha raiado para eles em seu coração. A plenitude do dia oitavo só vai raiar no coração do discípulo de Jesus quando ele crê de modo perfeito na glória da crucificação da qual verte a ressurreição e com ela, o novo céu, a nova terra e o novo homem (cfr. 2 Pd 3, 13). Neste sentido, crer mais que ter certezas ou informações será, aqui, viver como quem está fundado nesta verdade.

1.2. Iam falando um com o outro

Mas, apesar de abalados e abatidos, “iam falando um com o outro sobre tudo o que se tinha passado” (Lc 24, 14). Este testemunho é de muita importância no processo da busca e do amadurecimento da fé, isto é, para o encontro pessoal com Jesus Cristo crucificado e sua aceitação. Isto significa que aquela chama que se acendera em seus corações com o primeiro encontro e a primeira experiência de convivência com o Senhor, pelos caminhos da Palestina, não havia se extinguido de todo diante do aparente fracasso da crucificação; eram, pois, ainda, uma mecha que ainda fumegava. Se tivesse se extinguido por completo não estariam conversando sobre tudo o que se tinha passado.

Pelo tom da narrativa os dois falavam não apenas entre si, mas também cada qual consigo mesmo. Isto significa que a alma de cada um, refletindo, meditando na solidão, buscava ver algo mais acerca de tudo o que acontecera. Mas, também, como companheiros no seguimento de Cristo, conversavam entre si. Conversar mais que “jogar conversa fora” em falatórios de pouco interesse, significa falar e escutar, interpelar e responder; significa, enfim,  conviver, fazer circular a graça da mesma vida num e no outro. Assim, sem o perceberem, os dois discípulos, à medida em que conversavam, iam repartindo o pão da mesma tristeza, dos mesmos sentimentos, do mesmo discipulado de Jesus, que, até então, parecia frustrado. Eram levados, assim para dentro do mistério que cerca os últimos acontecimentos da vida do seu mestre e Senhor.

Ora, se esta é a eficácia da conversa dos dois discípulos sobre seu mestre e Senhor, qual não será a eficácia da conversa deles com Ele mesmo, o Senhor?! É o que vem testemunhado pela sequência do evangelho.

  1. O Ressuscitado aparece e se associa como peregrino

A seguir vem este belo testemunho: “Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles”. Dois pontos merecem ser considerados aqui. Primeiramente deve-se notar que a aparição foi iniciativa do próprio Senhor. Ele cumpria, assim, a promessa: “onde dois ou mais estão reunidos em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt 18, 20). E, segundo os antigos Padres, a peregrinação dos discípulos, centrada na fala, na conversa acerca de Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado, representa todos os discípulos de Jesus; somos nós, a Igreja, desde seu princípio até a consumação dos tempos. Isto significa que o escândalo da cruz continua e continuará como mistério que precisa ser pensado, refletido no dia a dia de nossa caminhada. E em segundo lugar, esta aparição só foi possível porque os discípulos, embora entristecidos, desanimados, abalados e descrentes, não haviam esquecido Jesus; a fé não havia desaparecido de todo. Não só voltavam falando Dele, mas também se fizeram todo ouvidos quando Aquele estranho se pôs a explicar-lhes as passagens das Escritura que falam do Cristo.

2.1.Crer para compreender

Os dois discípulos, porém, não O reconheceram porque “seus olhos estavam como que vedados” (Lc 24, 16). Segundo o relato, a raiz de toda descrença e desânimo deles estava na visão ou compreensão que eles faziam ou tinham da crucificação de Jesus. Enquanto continuassem olhando a crucificação com seus próprios olhos, com os olhos e as expectativas do mundo, continuariam sem entender e muito menos sem aceitar o acontecimento da cruz como sinal do Amor que é Deus. Estariam, pois, com os olhos vendados. O mistério se lhes estaria encoberto, permaneceria ignorado, como mistério. Em outras palavras, eles amavam Jesus, mas ainda não conseguiam crer nele e ver para além das aparências e dos pareceres humanos. Algo semelhante aconteceu bem mais tarde com o pai de São Francisco, Pedro Bernardone. Ele amava muito seu filho, mas apenas como seu filho, um filho que lhe traria muitas honras e glórias. Por isso não conseguia compreender e muito menos aceitar que ele se tornasse, então, verdadeiramente filho do Pai do Céu, vivendo como peregrino e mendigo de rua.

Aqui vale a exortação de Isaías “se não crerdes, não compreendereis” (Is 7, 9) da qual mais tarde Santo Agostinho vai elaborar o famoso princípio acerca da investigação teológica: “eu creio para compreender e compreendo para crer melhor” (Sermão 43). Assim, a experiência e a ciência do Cristo Crucificado-Ressuscitado só é acessível àqueles que se dispõem a caminhar na dinâmica do amor, da esperança e da fé, jamais àqueles que caminham segundo os critérios do mundo, isto é, humanos-carnais (carnal = parcial, particular, egoísta). Exemplo bem claro desta condição vemos no processo de conversão de São Francisco. Certa vez, quando estava implorando fervorosamente ao Senhor para que lhe revelasse o sentido de sua vida, ouviu a seguinte resposta: “Francisco, se queres conhecer minha vontade, é necessário que odeies todas as coisas que amaste carnalmente e desejaste possuir” (LTC 11). Coisas do mundo se veem e se compreendem com olhos da carne. Coisas da fé, porém só podem ser vistas e compreendidas com o olho do espírito, isto é, com o senso da fé, que nos vem de Jesus mesmo. É o que São Francisco, na primeira Admoestação, chama de ver segundo o espírito e a divindade.

2.2.O mal das expectativas

Começa, então o diálogo de Jesus com os dois acerca dos últimos acontecimentos havidos em Jerusalém. Notemos que a iniciativa é, de novo, de Jesus. Na dinâmica da fé, do amor, a iniciativa é sempre assim. Vem do outro. Ou seja, para as realidades que nos transcendem, isto é, as realidades divinas do encontro com o Senhor Jesus e do seu seguimento, nada valem nossas competências. Só é possível conhecê-las ou comungá-las se elas de uma ou de outra forma tomarem a iniciativa, se abrindo e se doando a nós.  

Na resposta que eles dão há, porém, uma confissão muito importante: dizem que “Jesus de Nazaré … era um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e do povo”. A confissão estava correta, mas não alcançava, ainda, a verdadeira identidade de Jesus. Jesus era mais que um profeta. Ainda não conseguiam ver que Ele era realmente o Filho de Deus, o esplendor do Pai, a Palavra, à serviço da qual agiram e falaram os profetas. Isso por razões várias, além das já assinaladas acima. Primeiramente, havia o medo de confessá-lo como tal, por causa da perseguição das autoridades judaicas. Mas, o peso maior de sua incredulidade vinha das falsas expectativas, centralizadas na grande perspectiva de um Messias político-terreno-religioso. As expectativas são projeções dos anseios, dos desejos e das fantasias humanas. Como tais sempre podem ser frustradas e negadas pela realidade que as transcende e ultrapassa. Eram, pois discípulos de expectativas, não de esperança.

A esperança, no entanto, é uma atitude de espera do inesperado, de fé no Deus que torna possível o impossível para nós, de amor e confiança, pronta para entregar-se à realidade seja qual for, por acolher tudo como um envio de Deus. Como caminhavam imbuídos de uma fé desviada, também sua esperança era imperfeita e frouxa. Por isso a conclusão de seu relato não podia ser outra senão esta: ”Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito. Mas a ele ninguém viu”. Pelo visto, a expectativa deles se assemelha muito à expectativa daqueles incrédulos que insultavam Jesus no momento da Cruz: “Ele salvou a outros e não pôde salvar-se a si mesmo! ” (Mt 27, 42).

2.3.A necessidade da cruz

Jesus, porém em vez de rejeitar esta incredulidade ou meia-fé dos dois discípulos, acompanhada de uma não visão e não compreensão das coisas, a acolhe e através dela começa a fazer toda a sua catequese acerca da necessidade da crucificação. Já havia se aproximado deles de modo muito humano e familiar, simples e humilde, fazendo-se peregrino com eles e como eles. No entanto, não podia, também, deixar de dar-lhes uma certa reprovação ou quem sabe uma fraterna exortação, como se queira: “Ó néscios! Como sois tardos de coração para crerdes tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse estas coisas e assim entrasse na sua glória? ” (Lc 24, 25-26). De fato, inúmeras são as passagens da Sagrada Escritura que prenunciam a morte de cruz e a ressurreição do Cristo. E eles como israelitas, herdeiros de tantas profecias acerca do Messias, deviam ter compreendido este destino de seu Mestre. Mas, Jesus, não desiste. Continua sua instrução aos seus amáveis discípulos – à Igreja – acerca do mistério mais profundo de sua existência, sua Boa Nova: a Cruz. Ele era e é, ao mesmo tempo, mensageiro, mensagem e intérprete que retoma a mensagem central de toda a sua evangelização: a necessidade de passar para o Pai através da paixão e morte de cruz (Mc 8,31 par.; Lc 17,25; 22,37; 24,7.26.44).

Na dimensão do amor, no entanto, necessidade e liberdade sempre coincidem. Com efeito, Jesus Cristo caminhou, ao mesmo tempo, na obediência à vontade do Pai e na liberdade absoluta, totalmente espontânea (Cf. Jo 10,18; 14,31b; 18,11).  Donde, mais do que ser entregue à morte pelos homens, Ele mesmo é que se entrega, ou melhor, é o Pai que o entrega, com sua benevolência, por amor dos homens, para que estes, vendo tamanha misericórdia, se convertam e sejam salvos. Eis a grande necessidade, também chamada por Jesus de “desejo”: “Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa”.

Esta necessidade livre (desejo), Pedro, por sua vez, no primeiro anúncio (Kerygma) de Cristo aos judeus, a chama  de  “desígnio” e “previsão” de Deus” (Cf. Primeira leitura). Ou seja, independentemente da maldade dos que o condenaram à morte, Deus já havia decidido salvar os homens através de uma iniciativa, um plano próprio Dele, nascido de seu coração misericordioso: o mistério da morte na cruz.

O centro do lamento de Jesus, porém, acerca da demora deles em crer, não é porque Ele não estaria sendo compreendido, aceito, amado, mas porque eles estavam se prejudicando, perdendo tempo, fora do banquete da misericórdia do Pai. Estavam se danificando, “se danando” como dirá mais tarde São Francisco na famosa Admoestação “Do Corpo do Senhor” (Cf. Ad 1). Em outras palavras Deus está doido para “esbanjar” seu amor, sua misericórdia, morrendo de paixão e desejoso de ser comido por eles e eles, nós, perdendo tempo com ninharias, desejando um Deus “grande” “poderoso”, “justo”, “santo”. Ele quer doar-se, gratuitamente, na pura fé e boa vontade e nós queremos comprá-lo, adquiri-lo por nossos méritos.

Enfim, Jesus repete aqui a mesma mensagem que havia transmitido a Pedro, Tiago e João no monte Tabor, por ocasião de sua Transfiguração: era preciso a Ele passar pelo sofrimento da Cruz para chegar à glória da ressurreição.

  1. Os peregrinos chegam ao lugar sagrado

Como um forte sopro, sobre uma fogueira do dia anterior, pode fazer aparecer pequenas brasas incandescentes escondidas de baixo das cinzas, assim foi a fala de Jesus aos seus dois amados discípulos. Ao purificar-lhes os corações acerca da verdadeira figura do Messias, através da catequese das Escrituras Sagradas que falam do Messias sofredor, seus corações foram se aquecendo e se iluminando pela claridade da fé. Notemos, porém que toda esta transformação foi acontecendo, os poucos e porque Jesus se fizera peregrino com eles e como eles: peregrinos, buscadores do sentido “de tudo o que havia acontecido com Jesus o Nazareno”.

A culminância desta transformação acontece quando chegam ao fim, ao auge da peregrinação. Peregrinar, significa pôr-se “em saída”, em busca não de um lugar geográfico, mas de um “lugar” sagrado, no qual acontece ou se dá a experiência do encontro com Deus. Para os dois discípulos esta culminância não se se deu em Jerusalém, no templo sagrado, mas quando chegaram à sua aldeia, suas casas, suas famílias, seus negócios, suas mesmices de cada dia. Ao generoso e caritativo convite – nascido de corações então abrasados por um novo amor e por uma nova fé – para que se dignasse ficar em sua casa, pois a hora já era tarde e a noite ia chegando, Jesus entra e fica com eles. Comentando este gesto, São Gregório diz que não podiam ser estranhos à caridade estes que caminhavam com a Caridade encarnada, que é Jesus Cristo. Por isso, ao chegarem à aldeia, no momento em que Jesus fez menção de ir adiante, eles logo se adiantaram convidando-o a ficar com eles: “Fica conosco, já é tarde e já declina o dia” (Lc 24, 29a).

 Vem então a cena da ceia noturna descrita com as mesmas palavras usadas para a narrativa da Última Ceia: “Jesus se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía”. Ou seja, o próprio Ressuscitado, re-nova e atualiza, ele mesmo, o mistério da doação de Si em forma de pão abençoado, repartido e comungado; renova e atualiza o mistério de sua entrega e doação aos seus até a morte e morte de cruz. Eis o grande e único santuário para o qual todo peregrino cristão deve tender a vida toda!

Os frutos deste ato de Jesus são vários. O primeiro, e o mais significativo de todos, não podia ser outro senão este: “Nisso seus olhos se abriram e eles reconheceram Jesus”. Mas, o partir do Pão não só iluminou-lhes o intelecto, como inflamou-lhes o afeto: “Diziam então um para o outro: ‘não nos abrasava o coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras? ” (Lc 24, 32). O amor, a caridade que o discípulo prova na mesa da Eucaristia é como o fogo do bem-querer cuja chama se expande por todo o Corpo de Cristo, a humanidade toda e o universo inteiro.   

Assim, à iluminação do intelecto, ao inflamar do afeto e do bem-querer, segue-se o efeito da ação: eles se põem a caminho de volta. Inflamados com o amor divino e plenos de alegria, eles voltaram a Jerusalém na mesma hora, para anunciar-lhes a graça do encontro com o Cristo ressuscitado que lhes fora concedida no final daquela sua peregrinação. Falando da importância e do papel do encontro pessoal com Jesus, lugar e fim de toda peregrinação cristã – assim se expressa nosso Papa Francisco: “A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele, que nos impele a amá-Lo cada vez mais. Um amor que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de apresentá-la, de torná-la conhecida, que amor seria?” (EG 264). 

Conclusão

O peregrino cristão, nada tem a ver com turismo nem mesmo quando disfarçadamente vem camuflado com o expressivo adjetivo de “religioso”, “cristão”, “franciscano”. A alma do peregrino cristão não pode ser outra senão a de Jesus Cristo ressuscitado: buscador de Deus como Ele é buscador do homem.

Quem, neste sentido, nos dá um belo exemplo é São Francisco. Para ser fiel imitador do seu Senhor estabeleceu que todos os lugares que o frade pudesse ver e alcançar – o mundo todo, enfim –  deveria fazer deles o seu claustro, o lugar sagrado de encontro com seu Senhor (Cf. SC 31). Por isso, também, escolheu como regra de vida para si e seus confrades “viver como peregrinos e forasteiros” (RB 6). E ele mesmo dava a razão. Pois, o Senhor “foi pobre e hóspede e viveu de esmolas. Ele próprio e a Bem-aventurada Virgem Maria e seus discípulos” (RNB 9).

Mas, a alma de peregrino de Francisco aparecia melhor no empenho que despendia não apenas em procurar seu Senhor em tudo e com todos, mas também de conversar com Ele como amigo faz com amigo, de implorar-lhe a salvação dos pecadores (2C 905), e, acima de tudo, “indo pelo mundo como peregrino e forasteiro, nada levando consigo a não ser Cristo” (Atos 4) para assim “estar entre os pecadores como se fosse um deles” (1C 83).

Fraternalmente,

Marcos Aurélio Fernandes e  Frei Dorvalino Fassini, ofm