03.09.2018

Revisitando a Missão em Luanda    

Savanna Sunrise and Acacia Tree
Savanna Sunrise and Acacia Tree

 

Queridas Irmãs:

Parafraseando o texto bíblico, quando Jesus diz aos discípulos que se dirigissem à Galileia pois lá o encontrariam, o Senhor também me conduziu, mais uma vez, por sua graça e bondade, à Galileia do além fronteiras, e lá, junto com minhas Irmãs e irmãos, poder sentir a sua presença amorosa, conduzindo seus filhos tais quais são, com uma ternura ímpar.

Dez (10) anos se passaram. Era 25 de fevereiro de 2008 quando, conduzidas pelo Espírito do Senhor, desembarcávamos no Aeroporto Quatro de Fevereiro, em Luanda, num voo de conexão da África do Sul, levando na alma, nos sentimentos, no coração uma bagagem muito grande de amor, de doação, de entrega. Tudo era novo. Pulsava uma alegria e uma disposição forte de servir, de evangelizar.  Frei Ângelo e sua fraternidade nos acolheram. A semente da Missão foi lançada. Nossas Irmãs que lá ficaram, romperam barreiras, abriram caminhos, deixaram-se conduzir pelo Espírito do Senhor e agora, depois de uma década, pude constatar as marcas gravadas nas pessoas, no trabalho, na vida, numa evolução vertiginosa.

Os desafios continuam. Mas a forma de vê-los, senti-los, administrá-los, tomam novas feições na busca de soluções.

Quando lá chegaram, foi-lhes confiada uma minúscula escola e uma modesta creche para administrar.  Hoje, as dependências da creche melhoraram sensivelmente, graças ao tino administrativo de nossas Irmãs e busca de parcerias. As crianças recebem um atendimento humano e formativo de qualidade. A pequena escola São Marcos transformou-se em um Complexo escolar, também fruto de projetos e parcerias, com 1850 alunos do Ensino Primário ao 1º e 2º Ciclos; com mais de 60 educadores, num trabalho conjugado com o Sistema Público de Ensino, que participa enviando alguns profissionais por ele assumidos. As dependências da Escola são cedidas para a Comunidade Paroquial para atividades de catequese aos sábados e domingos bem como para grupos eclesiais que se reúnem para trabalho, estudo ou oração. Há sempre vida circulando nas salas, corredores. A intensidade da poeira não arrefece os ânimos.

E mais. O testemunho das nossas Irmãs despertou em algumas jovens o desejo de também fazerem o caminho de Francisco e Clara como Franciscanas de Ingolstadt. A Comunidade das Irmãs alargou seu espaço físico e preparou um lugar para acolhê-las, para fazerem experiência de vida sob o mesmo teto, cultivando a aspiração do chamado. São 8 jovens, vindas de regiões diferentes de Angola, que querem servir ao Senhor da melhor forma possível. Recebem formação específica, completam seus estudos acadêmicos, colaboram nas atividades e cultivam o espírito de oração e devoção.  Transcrevo aqui seus nomes para que em nossas orações as coloquemos sob a proteção de Deus. São elas:   Cristina – Edvalda – Elizandra – Ginga – Luísa – Martina – Paula – Victória.

Voltar e estar nesta Galileia mais uma vez, foi de uma riqueza única. Diferente das anteriores. Conviver com as Irmãs, acompanhar o seu trabalho, sentir a realidade física, geográfica e humana do bairro de periferia, onde estão inseridas, percorrer os espaços escolares, rezar com o povo, partilhar com as jovens em formação, vivenciar juntas os desafios de uma população que carece de meios de transporte, de vias de acesso, de atendimento à saúde, de falta de sanidade básica, provocada pelo depósito do lixo a céu aberto, custo de vida elevadíssimo, desvalorização da moeda circulante Kwanza, comércio informal, sistema habitacional sub-humano nas periferias. 

Um povo que enfrenta desafios, carregando em sua história familiar e cultural características muito específicas, delineadas pelas etnias a que pertencem. Cultivam uma fé e uma religiosidade impressionantes. Suas celebrações são vivas, movimentadas, regadas com muita oração e motivadas por belíssimas vozes de brilhantes corais, que elevam seu louvor a Deus tanto na língua portuguesa (de Portugal) quanto em outros idiomas próprios das etnias regionais. E são muitas. O ritmo das músicas é envolvente, todos participam batendo palmas. O tempo da celebração é precioso. Não tem pressa. Acomodam-se do jeito que for possível. Levam suas banquetas ou cadeiras e encontram um espaço dentro ou fora da Igreja que os acolhe. Os Frades Menores, dinamizadores da vida cristã deste povo, se empenham por fazer dos momentos celebrativos, momentos de fé e de oração, transmitindo a todos a essência do Evangelho e conduzindo-os para a vida sacramental.

Deus não se cansa em generosidade. Nossas Irmãs testemunham uma vida de consagradas e de profissionais da educação com muita propriedade. Sempre que convidadas, não deixam de contribuir também na formação do povo de Deus, nos grupos existentes na Comunidade e, principalmente, zelando pela qualidade do ensino e de vida entre os educandos e educadores, como Franciscanas de Ingolstadt.  

Obrigada, Senhor, por mais este presente que recebi de Suas mãos generosas. Obrigada pela proteção na viagem e no tempo em que lá pude estar. Volto enriquecida e mais comprometida com a Missão. Foi também um tempo privilegiado, pois a temperatura estava muito agradável, o que não ocorre em outras épocas do ano.

Obrigada, Irmãs Ana, Andréa, Claudina e Aspirantes, pela convivência, carinho, cuidado fraterno, partilhas, oportunidades recebidas e por me permitirem estar com vocês nestes dias que os considero muito abençoados.  Que o Senhor as fortaleça, as abençoe e conduza sempre!

Obrigada ao Conselho Regional e às Irmãs da minha Comunidade por me terem concedido este tempo.

A Missão em Luanda é nossa Missão: 10 anos de Missão! 10 anos de bênçãos e graças! 10 anos de compromisso!  – Ir. Carmen Polo – 24/08/2018