12.03.2020

RETIRO QUARESMAL – 5ª. feira da 2ª. semana

Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, ficava sentado no chão junto à porta do rico.” (Lc 16,19-31; Jr 17, 5-10; Sl 1)

  • Enquanto me encontro aqui sentado, tomo consciência da presença do Deus de amor, insuflando-me de vida e de tudo que me rodeia.
  • Durante alguns momentos, permaneço em silêncio, escutando os sons e ruídos que vêm de longe, sentindo o ritmo da respiração e o pulsar do coração.
  • Peço a graça indicada para esta semana (no texto do domingo passado).
  • Leio atentamente as indicações abaixo, para ajudar a criar um clima favorável de intimidade com o Senhor.

Lucas, mais uma vez, nos traz uma parábola forte, clara e inquietante, que corta a respiração e nos situa, a partir de Deus, na dinâmica das relações humanas. Deixar que a parábola se explique, que nos fale, que nos questione e que ilumine nossa vida, essa é a melhor atitude diante dela.

Este é o tema: um rico petrificado e fechado em sua riqueza apodrece com ela, ou seja, perde sua humanidade e se condena, não porque tenha feito coisas más, mas porque estava cego e não viu o pobre à sua porta. É, sem dúvida, uma parábola de nossa sociedade.

A primeira parte da narração fala de um “rico” poderoso. Suas “vestes finas e elegantes” indicam luxo e ostentação. Só pensa em banquetes suntuosos todos os dias.

O rico não tem nome, pois não tem identidade humana. Não é ninguém, “Era tão pobre, que só tinha riqueza”. Sua vida, fazia de amor solidário, é um fracasso.

Muito perto, junto à porta de sua mansão, estão estendido um “mendigo”. Não está coberto de linho e púrpura, mas de feridas repugnantes. Não sabe o que é um festim; não lhe dão nem do que cai da mesa do rico para saciar sua fome.  Só alguns cachorros de rua se aproximavam para lamber-lhe as feridas. Não tem ninguém. Não possui nada. Só um nome cheio de promessas: “Lázaro”, que significa “Deus é ajuda”.

O pobre está fora da porta, rodeado pelos cachorros. Na rua, mas só a uns passos da mesa do rico, que desperdiça comida em sua casa. O rico está dentro de casa, poucos metros os separam, mas há um abismo entre eles; não há palavras, não acontece nenhuma forma de comunicação entre eles. Estão muito próximos, só os separa uma frágil porta, mas o rico não “vê” o pobre, não lhe interessa sua pobreza, não o olha, não o escuta.

A segunda parte da narração nos situa diante de uma grande mudança de perspectiva. A reviravolta é total. Ambos morrem, a morte os iguala, de maneira que o tema das riquezas passa a um segundo plano.

O pobre se salva pela misericórdia de Deus, ou seja, por graça (porque Deus é Deus). Por isso, a salvação é dom, pura graça.

O rico se condena por si mesmo, porque ele escolheu, porque não foi capaz de ver/descobrir/ajudar os pobres que estavam ao seu lado.

Depois da morte não há como mudar as coisas. O tempo de mudança é este, esta vida.

Cresce cada vez mais o número de portas que nos impedem de ver, portas que nos distanciam da fome, do sofrimento, da pobreza, da desnudez, que há do outro lado. A grande tragédia está no fato de levantar muros, cercas de proteção, portões eletrônicos, que nos impedem de ver os rostos dos outros, que nos isolam dos outros, que nos fecham sobre nós mesmos como se ninguém mais existisse.

É preciso escancarar as portas dos nossos preconceitos, da nossa insensibilidade, dos nossos pré-juizos…, portas que nos fazem acostumar a ver famintos, necessitados, explorados…

O que Jesus lamenta é a nossa insensibilidade e nossa indiferença diante daqueles que vivem na penúria. A riqueza pode ser um grande estorvo no coração; a púrpura e o linho podem ser um escândalo num mundo de pobreza; os grandes banquetes podem ser um insulto num mundo onde impera a fome.

  • Leio atentamente e deixo-me impactar pela parábola tão forte, contada por Jesus no Evangelho de hoje; que impactos tem no meu coração o mundo da exclusão e da violência?
  • Quais atitudes assumo para diminuir a insultante riqueza de uns poucos e a escandalosa miséria de muitos?
  • Re-cordo ( visitar de novo com o coração) experiências de voluntariado, de presença solidária e de comunhão com os mais excluídos; quais sentimentos experimentei? Quais apelos senti?
  • No final da oração, tomo consciência do meu verdadeiro estado de espírito neste momento. Como me sinto? Alegre? Triste? Em paz?