03.03.2018

Pelo mistério de sua encanação-morte e ressurreição não só Ele – Jesus Cristo – mas também todos nós nos tornamos um Templo vivo de Deus, princípio da não-violência e da fraternidade universal

Padua - Paint of Jesus Cleanses the Temple scene in the church Chiesa di San Gaetano and the chapel of the Crucifixion by unknown painter form 17. cent.

Introdução:

O desejo de Deus de morar com os homens e dos homens de destinar e construir para Ele um lugar digno, um templo, atravessa toda a história sagrada. Neste terceiro domingo da Quaresma Jesus vem dizer-nos que este desejo se consumará plenamente em seu próprio corpo.

  1. Um Povo de Deus e para Deus

Quem, na liturgia de hoje, começa apontando para esta esperança é a primeira leitura tirada do livro do Êxodo que apresenta o famoso “Decálogo”, isto é, as Dez Palavras, conhecidas como os “Dez Mandamentos”.  São palavras muito fortes, densas e cheias de paixão e ciúme: “Eu serei o teu Deus e tu serás o meu Povo predileto!”. Por isso, se observadas, vão garantir a Israel tornar-se, de fato, um “povo consagrado”, uma “propriedade eleita” de Jahvé (Ex 19,5), uma “shekináh” – uma presença gloriosa de Deus – no meio da humanidade e do universo. Ser “Povo de Deus”, “shekináh”, era, sem dúvida nenhuma e certamente, a honra maior, a dignidade mais elevada, a responsabilidade mais expressiva, perigosa e dramática de Israel.

  • A primeira palavra

A narrativa começa com o famoso testemunho e mandato do próprio Deus: “Eu sou o Senhor teu Deus … Não terás outros deuses além de mim… pois Eu sou o Senhor teu Deus” (Ex 20,1-5). É preciso ler e sentir bem de perto o fervor e o peso com que Deus proclama esta sua primeira palavra a Israel, isto é, este “sou teu Deus!”

Por isso, as Dez Palavras devem ser compreendidas a partir do fervor deste desejo de encontro íntimo, amoroso, apaixonado entre Iahweh e seu Povo Israel. A Aliança, mais que um pacto de interesses, uma sociedade, aqui, torna-se, uma parceria, um pacto de amor, uma celebração do mútuo ser-livre um para o outro, na doação do amor, um casamento sagrado. Como pano de fundo está a obra salvadora de Jahvé iniciada já com a libertação da escravidão do Egito. Por isso, a aliança, agora tem um objetivo muito claro: levar adiante e consolidar esta obra, impedindo que esta relação entre o Salvador e seus salvados, os seus eleitos, venha a se extinguir.

As Dez Palavras, assim, são a regra através da qual o Povo de Israel se deixa guiar; o caminho pelo qual ele vai empenhar-se em buscar ser aquilo que ele é e tornar-se aquilo que deve ser: um povo liberto e livre de toda a escravidão, protótipo e modelo para todos os povos que desejem chegar à verdadeira libertação. Neste sentido, a obediência, aqui, nada tem a ver com subserviência servil, mas tudo com a ausculta e o seguimento amoroso a modo de obediência discipular, filial ou esponsal.

O amor, que Deus ordena, por isso, não é difícil e nem distante de nós uma vez que se constitui no íntimo mais íntimo de nós mesmos. Na verdade, amor, aqui significa “doação”, uma semente de Si, que Deus lançou no coração do homem. E o que ele quer obter, agora com essa doação, esses mandamentos, são os frutos desta semente.

É evidente que esta palavra “Eu sou o Senhor teu Deus”, é a primeira em todos os seus sentidos: primeira na enumeração e primeira como origem, fonte, raiz de toda as demais. Sem ela nada feito e nada se sucederá. Por isso, na leitura de hoje ela ocupa praticamente todo o espaço da página, do verso 1º ao 11º.

  • A segunda palavra semelhante à primeira

O decálogo se ordena em dois movimentos ou direções distintas: Deus e o próximo. Dois movimentos, mas não uma dualidade, uma vez que estamos diante de duas ordens peremptórias, indivisíveis e inseparáveis: Pai-filho; Criador-criatura; Deus-próximo. Não se observa uma palavra se não se observa a outra e vice-versa.

É devido a esta unidade que a primeira palavra, o primeiro mandamento, agora, vai estender-se nos demais, explanados na segunda parte. Nesta, bem menor que a primeira, vem o ordenamento do respeito e da honra às pessoas, começando por aquelas que nos são mais próximas, na linha do nascimento, isto é, da família pequena até a grande família humana. A soberania absoluta de Jahvé, leva-o a proibir aos israelitas qualquer dano não apenas às pessoas, mas também aos seus bens, mesmo que seja só na intenção, como é o caso da cobiça.

A lógica do decálogo é muito simples, clara e pedagógica: que os israelitas pudessem recordar sempre as grandezas e prodígios do seu Senhor e assim, animados pela sua infinita misericórdia e permanecendo sempre fiéis ao seu amor eterno, pudessem viver livres e felizes, testemunhando a glória de Deus no meio dos demais povos.

  1. Para o Pai um templo vivo e puro

Para expressar a glória de seu Deus e de serem seu Povo eleito, desde o tempo de Salomão, os israelitas haviam construído o famoso Templo de Jerusalém, a máxima glória do judaísmo, o centro da unidade e quase a encarnação mais representativa de Israel e de sua história. No evangelho de João a atividade de Jesus girará quase unicamente ao redor deste templo e de seu significado.

 No tempo de Jesus, porém, o templo não era apenas o local do culto e das festas litúrgicas, principalmente dos sacrifícios de animais, mas também um grande conjunto com inúmeras “lojas” ou dependências “comerciais” que visavam atender as necessidades dos fiéis que vinham de longe e precisavam comprar suas oferendas, como bois, ovelhas e pombas. É neste local que se passa a cena do evangelho da missa de hoje, conhecido como o evangelho da expulsão dos vendilhões ou, simplesmente, Evangelho da purificação do templo.

A cena se desenvolve em quatro momentos distintos, mas intimamente interligados.

  • Jesus e a Páscoa

O evangelho começa dizendo que “estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém” (Jo 2, 13).

 Diferentemente dos demais evangelistas, que colocam esta cena no fim da vida de Jesus, João, o último, a coloca no início do seu Evangelho. A intenção é muito clara: mostrar, desde logo, o “por que” ou “para que” Jesus, o Verbo eterno do Pai, o próprio Deus, veio a este mundo. Veio para substituir e levar ao máximo, ao sumo o antigo Testamento – aliança – a antiga páscoa e o próprio judaísmo, enfim para substituir as figuras pela realidade. Ou seja, anunciar que o Templo antigo, glória do judaísmo, está sendo não apenas superado e substituído, mas também consumado para sempre e para toda a humanidade e toda a sua história por um novo Templo, uma nova glória: o templo, a glória do seu próprio corpo, “glória que lhe vem do Pai, como Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).

Pouco antes desta cena, o evangelho narra que, depois do sinal operado em Caná da Galileia, Jesus descera a Cafarnaum, junto com sua mãe, seus irmãos e os seus discípulos (Cf. Jo 2, 12). Agora, diz que Jesus subiu a Jerusalém. O que está em jogo, aqui, porém, não são meros informes histórico-geográficos, mas, segundo a leitura dos Padres da Igreja, movimentos espirituais. Ou seja, à luz da experiência do espírito, descida (katábasis) – Cafarnaum – e subida (anábasis) – Jerusalém – se revestem, de uma nova significação. Qual? É que no termo “Cafarnaum” encontramos a palavrinha “Naum” que significa conforto, consolação. Isso significa que todos aqueles que creram em Jesus desceram com ele ao “campo da consolação” – uma prefiguração da verdadeira consolação que adviria com sua Páscoa, isto é, com sua morte na Cruz e ressurreição. Essa primeira subida de Jesus a Jerusalém, que aconteceu nos primórdios de sua missão, remetia, pois, à sua segunda subida, que aconteceria no fim de sua missão, nos dias de sua paixão.

  • A expulsão dos vendilhões do templo

Vem, então a cena da expulsão dos “vendedores de bois, de ovelhas e de pombas”, etc. (Jo 2, 14-16). Com esta cena o sentido que o evangelista quer dar à sua narrativa é muito claro: a ordem do antigo culto, exercido no Templo de Jerusalém, será desfeita e transformada. Se no passado este culto realizara a importante missão de impedir que os israelitas se atrelassem ao culto de falsos ídolos e deuses, agora, não precisavam mais deste recurso porque com sua Páscoa, Jesus inauguraria o novo e definitivo culto, do qual o antigo e provisório era apenas uma prefiguração e uma embaçada sombra. Quem, depois, vai decantar com profundidade e certa comoção a novidade e a riqueza deste mistério é o autor da Carta aos Hebreus, principalmente do capítulo 3º ao 10º.

Mestre Eckhart, meditando esse mistério, diz: “o templo, no qual Deus, seguindo a sua vontade, quer poderosamente reinar, é a alma do homem”[1]. Deus criou o homem segundo sua imagem e semelhança. Com outras palavras, Deus deu à alma humana a dádiva da igualdade com Ele. Destacou-a em toda a criação como o seu templo, isto é, como o lugar de seu reinado. “Por isso, Deus quer ter esse templo vazio, a ponto de ali não haver nada mais do que Ele só. Esta é a razão por que esse templo lhe agrada tanto, já que lhe é justamente tão igual e Ele se sente tão bem aconchegado nesse templo, sempre que nele só Ele se encontra”[2].

Era também por isso que São Francisco exortava os Ministros a que tivessem o máximo de cuidado com suas almas e com as almas dos Irmãos porque é terrível cair nas mãos do Deus vivo e verdadeiro (Cf. RNB 4,6)

Ora, o que seria cuidar da alma senão cuidar do desprendimento, da gratuidade que são a tônica do novo culto, o dos adoradores que adoram o Pai em espírito e em verdade? Os que compram e vendem no templo, humanamente falando, não são pessoas más, mas, segundo Mestre Eckhart, não passam de mercadores porque em tudo o que fazem esperam ou procuram “que Nosso Senhor lhes dê algo em troca ou que Deus lhes faça algo que seja do agrado deles: todos esses são mercadores”[3]. Mas, porque estas boas pessoas, enquanto mercadores, são recusados? A causa é sua “grosseira descortesia”[4]. Não são nobres no espírito. São mesquinhos burgueses. “Pois querem dar uma coisa em troca de outra e, deste modo, negociar com Nosso Senhor”. Este “commercium” nada tem de “sacrum”. Pelo contrário, é, antes, um grosseiro insulto à fineza do amor de Jesus Cristo (e do Pai), cuja tônica é sempre, em toda a história da salvação, pura gratuidade humilde, simples e pobre.

A cena termina com os “vendedores de pombas”. Mestre Eckhart recorda que a estes Jesus não expulsa com o chicote, mas apenas diz: “Levai isso embora, retirai-o para longe!”. A essa gente Jesus não escorraça e nem enxota. Até fala com bondade como que procurando educá-los para um culto mais perfeito, libertando-as de sua própria vontade. Trata-se, aqui, de boas pessoas, que agem com gratuidade, mas que ainda fazem as suas obras e operações por vontade própria condicionadas a tempo, número e lugar. Ainda não adoram a Deus de modo livre, solto, sem condicionantes, sem impedimentos, sem imagens, sem cessar e sem tempo, isto é, a todo o tempo, em “espírito e verdade”.

  • O zelo que devora o coração

A cena da expulsão dos vendilhões, fora de tão grande impacto que, mesmo passados vários anos, seus discípulos “lembraram-se do que a escritura diz: ‘o zelo por tua casa me consumirá’” ( Jo 2,17). Temos aqui aquilo que se poderia dizer o coração de todo este evangelho, a boa nova. Qual? O desejo de Jesus transformar em obra sua paixão, isto é, de fazer de seu corpo uma “shekináh”, uma tenda para o Pai, para que assim Ele – o Pai – pudesse habitar de modo limpo, puro, verdadeiro no coração dos homens e de toda a criação e, também, para que deste mesmo modo, também o homem e toda a criação pudessem morar no coração do Pai.

É o que lemos no prólogo do evangelho de João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória; glória essa que, como Filho único cheio de graça e de verdade, ele tem da parte do Pai” (Jo 1, 14). O Verbo veio, pois, doar seu corpo, sua alma a cada um de nós, para que assim o Pai que sempre está todo e inteiramente n’Ele – seu Filho – habitasse em nós como habita n’Ele. Por isso, ele assumiu um corpo, isto é, assumiu a nossa natureza humana finita. O seu zelo, ou seja, o seu fervor de alma, pela morada de Deus entre os homens, enfim, o fez oferecer-se a si mesmo, no sacrifício da cruz. Eis o zelo que o devorava e consumia. Ele foi comido e consumido por este zelo. O verbo colocado no futuro indica que os discípulos viram no gesto de Jesus uma antecipação do que seria a sua paixão. Seu fervor de alma, o zelo de seu amor pelo Pai e pelos homens, seus irmãos, o levaria a dar a sua carne em comida, seu sangue em bebida e a entregar seu espírito na cruz.

  • Discussão com os judeus

Vem, então a cena da discussão dos judeus que, escandalizados e enfurecidos, exigem de Jesus uma explicação, um sinal acerca da origem do poder e da autoridade daquela sua fala. Essa exigência eles já a haviam manifestado várias vezes (Cf. Mc 8, 11; Mt 12, 38; 16,1; Lc 11, 16.29-30). Ora, o sinal estava à sua frente, limpo, inocente e puro: suas obras e sua pessoa. Bastava olhar e crer. Este sinal brilhará com toda a intensidade, mais adiante, na sua Cruz e Ressurreição. Por isso, exclamará depois, São Paulo: “Cristo é poder e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1 Cor. 1, 24b-25).

Jesus, porém, não responde diretamente aos judeus, mas aponta para a sua Páscoa: “Destruí este templo, e em três dias eu o reerguerei”. Jesus fala, aqui, por comparação, por analogia. A destruição do templo está para a sua paixão e morte de cruz assim como o reerguer do templo está para a sua ressurreição. O templo de Jerusalém era apenas uma sombra e uma pré-figuração da verdadeira morada de Deus entre os homens: o próprio corpo de Jesus Cristo.

Eles, porém, não a compreendem porque ele “falava do templo do seu corpo. Por isso, depois que Jesus foi ressuscitado dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que ele falara assim, e creram na Escritura, bem como na palavra que ele havia dito” (Jo 2, 21-22). O perdão, a misericórdia da cruz, providos pela ressurreição, eis a glória de Jesus – do Pai – o sinal do seu poder e de sua autoridade. O poder de não somente vencer o temor de morrer, mas de, muito mais, triunfar da própria morte. Ora, isso não pertence ao homem enquanto homem, mas somente ao “arqui-Filho” da Vida, que é Deus e, por extensão, a todos os que n’Ele creem, isto é, que o recebem e que se tornam, filhos do Pai n’Ele, com Ele e como Ele. Orígenes considera esta participação dos crentes no mistério do tríduo pascal dizendo assim:

Assim como o corpo visível de Jesus Cristo foi crucificado e sepultado, e ressuscitou depois, assim o corpo total de Cristo, formado pelos santos, está crucificado com Ele. Cada um deles não se gloria mais em nenhuma outra coisa do que na cruz de Jesus Cristo, por meio da qual vive crucificado para o mundo. Também foi sepultado com Jesus Cristo, e ressuscitou com Ele porque andava em certa novidade de vida, mesmo que ainda não tenha ressuscitado no que concerne à bem-aventurada ressurreição. Por isso não se escreveu “o ressuscitarei ao terceiro dia”, mas sim “em três dias”; se conclui disso seu erguimento dentro dos três dias.

A glória da ressurreição, porém, que agora os discípulos contemplam como que em um espelho e vislumbram como que através de um enigma, então se revelará dando-se a conhecer como realidade verdadeira e própria.

  • Jesus sabe o que há no homem

Depois de narrar o episódio da purificação do templo, o evangelista João conclui: “Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem (Jo 2, 23-25).

Que estranho! Aqui, os homens creem em Jesus e Jesus não crê nos homens. Que tipo de crentes são estes em quem Jesus não crê? São aqueles que creem por ter visto sinais, milagres, prodígios. São de novo os mercadores, vistos acima, aqueles que estão presos ao que é sensível e interesseiro.  Creem no nome, mas não na pessoa mesma de Jesus. Acreditam, mas não creem, por isso não aderem a Jesus, muito menos procuram encontrar-se com Ele a fim assumir sua cruz, sua doutrina, seu Evangelho e segui-lo, imitá-lo em sua paixão e cruz.

Santo Agostinho anota: “Isto é grande e admirável. Os homens creem em Jesus Cristo, e Jesus Cristo não se confia aos homens, especialmente quando diz que é o Filho de Deus, e quando quer padecer; porque se não tivesse querido, não teria experimentado a paixão”.  Por isso diz Orígenes: “Deve-se advertir também que Jesus não se fia dos que creem em seu nome, e sim dos que creem n’Ele. Creem nele os que caminham pela estreita senda que conduz à vida; os que creem em seus milagres, não creem n’Ele, mas somente em seu nome”. São apenas fãs, mas não seguidores.

Conclusão

Quem, mais tarde, além dos apóstolos e dos primeiros cristãos, teve o coração incendiado, tomado e devorado pelo zelo da “Casa do Senhor” foi São Francisco. A partir do encontro com o Crucificado, em São Damião e com o Evangelho do Envio dos Apóstolos, na Porciúncula, até o fim de sua vida, não cessou de percorrer aldeias e povoados, exortando e suplicando a todos para que cuidassem bem da salvação, isto é, da saúde, da pureza de suas almas.  Por isso, muitas vezes, depois de ter pregado ao povo, reunia sempre todos os sacerdotes que lá se encontrassem, num lugar à parte e pregava-lhes da salvação das almas e, sobretudo, para que tivessem cuidado e solicitude para manter limpas as igrejas, os altares e tudo o que serve para celebrar os divinos mistérios (Cf. Atos 60).

Mas, para o Santo de Assis, não basta ser um “templo vivo de Deus” é necessário também tornar-se “mãe de Deus”. Chegou a escrever: “Somos mães Dele quando O levamos no coração e em nosso corpo, por amor divino e de consciência pura e sincera; O damos à luz pela santa operação que deve brilhar, em exemplo para os outros. Oh, quão glorioso, santo e grande ter nos Céus um Pai! Oh, quão santo, preclaro, belo e admirável ter tal esposo! Oh, quão santo e dileto, benfazejo e humilde, pacífico e doce, amável e sobre todas as coisas desejável, ter tal irmão: Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele entregou a alma por suas ovelhas e orou ao Pai dizendo: Pai santo, guarda em teu nome os que me deste no mundo; eram teus e os deste a mim (1CFi 10-13).

Nesse sentido, ser templo vivo de Deus, significa trabalho árduo e contínuo a fim de que nossa alma possa tornar-se uma “terra boa”, fecunda para que as sementes do Verbo eterno do Pai possam germinar, crescer e produzir muitos frutos.

O fato de Cristo inaugurar aqui no mundo um novo templo, um templo vivo para o Pai levou os bispos do Brasil a sublinharem que “toda a natureza além de manifestar Deus é lugar de sua presença. Em cada criatura habita seu Espírito vivificante que nos chama a um relacionamento com Ele. A descoberta desta presença estimula em nós o desenvolvimento das “virtudes ecológicas” (LS 88) e, acima de tudo, a busca da não violência, pois uma agressão a qualquer criatura redunda em ofensa a um dos nossos irmãos e, acima de tudo, aos seus moradores mais sagrados:  o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Assim, se  outrora o Templo de Jerusalém era apenas uma figura da presença de Deus, agora ela se tornou realidade plena, consumada na pessoa, no corpo de  Jesus Cristo: Ele e n’Ele a beleza, o louvor e a glória do Pai, Ele e n’Ele a oração e a contemplação, Ele e n’Ele a oferenda, o sacrifício de todos os sacrifícios!!!

Fraternalmente,

Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini, ofm

 

[1] Sermões Alemães 1, p. 39.

[2] Idem, ibidem.

[3] Idem, p. 40.

[4] Idem, ibidem.