04.06.2020

O essencial

João cuidou muito da cena em que Jesus vai confiar aos seus discípulos sua missão. Quer deixar bem claro o que é o essencial.  Jesus está no centro da comunidade, enchendo todos com sua paz e alegria. Mas aos discípulos espera-os uma missão. Jesus não os convocou apenas para apreciá-lo, mas para torná-lo presente no mundo.

Jesus «envia-os». Não lhes diz em concreto a quem devem ir, que devem fazer ou como devem agir: «Como o Pai me enviou, assim também vos envio». A sua tarefa é a mesma de Jesus. Não têm outra: a que Jesus recebeu do Pai. Devem ser no mundo o que Ele foi.

Já viram a quem se aproximou, como tratou os mais desamparados, como levou para frente seu projeto de humanizar a vida, como semeou gestos de libertação e de perdão. As feridas de suas mãos e do seu lado recordam-lhes sua entrega total. Jesus envia-os agora para que «reproduzam» sua presença entre as pessoas.

Mas sabe que seus discípulos são frágeis. Mais de uma vez ficou surpreendido pela sua «pouca fé». Necessitam do seu próprio Espírito para cumprir a sua missão. Por isso se dispõe a fazer com eles um gesto muito especial. Não lhes impõe as mãos, nem os abençoa como fazia com os doentes e os pequenos: «Exala o seu alento sobre eles e diz: Recebei o Espírito Santo».

O gesto de Jesus tem uma força que nem sempre sabemos captar. Segundo a tradição bíblica, Deus modelou Adão com «barro»; depois soprou sobre ele o Seu «sopro de vida»; e aquele barro converteu-se em «vida». Esse é o ser humano: um pouco de barro alentado pelo Espírito de Deus. E isso será sempre a Igreja: barro alentado pelo Espírito de Jesus.

Crentes frágeis e de fé pequena: cristãos do barro, teólogos do barro, sacerdotes e bispos de barro, comunidades do barro… Somente o Espírito de Jesus nos converte em Igreja viva. As áreas em que o Seu Espírito não é bem-vindo ficam «mortas». Fazem mal a todos nós, pois impedem de atualizar a Sua presença viva entre nós. Muitos não podem capturar em nós a paz, a alegria e a vida renovada por Cristo. Não devemos batizar apenas com água, mas infundir o Espírito de Jesus. Não só devemos falar de amor, mas também amar as pessoas como Ele.

(José Antonio Pagola)