29.07.2017

No júbilo e na louvação de Jesus pela revelação do Pai aos pequeninos e humildes

Village Girl and boy studying in lighting lamp

Neste domingo, celebramos a alegria, o júbilo, a louvação de Jesus ao Pai porque, em vez de revelar sua intimidade, os segredos do seu amor, aos poderosos e soberbos, ele os revela aos seus pequeninos e humildes.

  • O profeta anuncia o despertar de um novo espírito

 A primeira leitura de hoje, tirada do livro do Profeta Zacarias, tem como pano de fundo, os sofrimentos que os judeus enfrentavam com a diáspora, a dispersão por entre os gentios. Embora diverso daquele da Babilônia, também neste cativeiro o povo de Israel recebe um novo despertar do espírito, um novo ânimo, caracterizado, principalmente, pela expectativa messiânica. Neste livreto, (o Dêutero) Zacarias faz o anúncio da obra salvífica de Deus, que se identifica com a obra salvífica do seu Messias (Cristo); uma obra que se desdobra, de um lado, com o deslizamento, as infidelidades do povo rumo à ruína, à corrupção religiosa e de outro lado com a renovação e a salvação total de Israel por parte de Jahvé.

    1. Estremece de alegria, filha de Sião

No trecho de hoje, Zacarias apresenta o Messias como o rei humilde e pacífico que vem à “filha de Sião”, à “filha de Jerusalém”, a comunidade de Israel, como um esposo que vai ao encontro de sua esposa, sua bem-amada. Por isso, escreve: “Estremece de alegria, filha de Sião! Prorrompe em aclamações, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem ao teu encontro; ele é justo e vitorioso, humilde, montado num jumento – sobre um jumentinho bem novo” (Zc 9, 9).

Nos tempos de antanho, dos deuses, cada cidade tinha o seu deus e cada deus a sua cidade. Isso significava: envio, encargo, prerrogativa. Por isso, cada cidade tinha, também, o seu “espírito”. Nós, hoje, falamos, por exemplo, do “espírito de Assis”, antigamente no “espírito de Atenas”, “espírito de Roma”, etc. O espírito da cidade era o deus sob cuja égide ela se constituía, lutava e se desenvolvia. Na época cristã isso veio dar na experiência do santo “padroeiro” da cidade. Por isso, para a construção do templo escolhia-se o lugar mais alto da cidade, pois imaginava-se ser esse o lugar mais próximo do seu deus. O deus e a cidade eram como esposo e esposa cujo vínculo ou aliança, entre ambos, eram garantidos pela justiça e pelo direito. A cidade funda-se sobre a lei, cujo doador é o seu deus. O direito que nela reina, o jugo que une a ambos, cria participação na imortalidade do deus. Foi assim que Israel sempre se experimentou a si mesmo como comunidade, povo que surgiu da aliança com YHWH, o Senhor: “Eu serei o vosso deus e vós sereis o meu povo”. Assim como o esposo é único para a esposa, também o israelita deveria repetir para si mesmo, todo o santo dia: “Shemá Yisrael Adonai Elohêinu Adonai Echad – Escuta ó Israel, Adonai nosso Deus é o Único Senhor” (Cfr. Dt 6, 4-9).  Os textos proféticos falam de Jerusalém, evocando-a como “filha de Sião”, como uma mulher. Ela é a esposa do Senhor. Assim, o advento do seu Rei será como a vinda do Esposo, a sua chegada, após um tempo de saudosa ausência. Por isso, o convite à alegria, ao júbilo e à exaltação!

Estranha-nos, hoje, este modo poético de compreender uma cidade como mulher, como filha e como esposa. A experiência que temos das grandes cidades, das metrópoles e megalópoles, hoje, é totalmente contrária a esta compreensão. Mas, quem sabe, a atração que as cidades exercem sobre os homens – o urbanismo dos tempos modernos – não seja um indício de que o homem vê no arquétipo da cidade, ainda hoje, uma promessa de refúgio e, ao mesmo tempo, de liberdade, não obstante toda a experiência de aprisionamento e de insegurança que nelas reinam.

  • Um Rei que virá montado num jumento

Contrastando com o deus de outros povos, o Messias (Ungido) de Deus, que Zacarias profetiza, é um rei pacífico e humilde; ele vem e entra na sua cidade como esposo que se achega à sua esposa, não montado num cavalo imponente, mas trotando sobre um animal modesto e jovem, um jumento, na verdade, um jumentinho bem novo, um filhote de jumenta. Esta profecia e realizará, depois, na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.

Nós já não temos tanta experiência do convívio com este animal como o foi no nordeste do Brasil. Luiz Gonzaga, poeta, músico e cantor popular, saudou essa presença com uma canção intitulada “apologia do jumento”. De maneira jocosa, como de costume, ele canta uma homenagem ao jumento, “nosso irmão”, conforme falou Padre Vieira. Este animal de carga, que tantos préstimos oferece ao homem, é, em contrapartida, por este maltratado e desprezado. O jumento é, acima de tudo, animal de carga, não de festa e muito menos de guerra. Por isso, sua existência se dá terra a terra e de modo humilde. Mas, uma humildade que vela o fato de que ele é animal nobre e sagrado. O cantador, enfim, lembra o vínculo do jumento com Jesus, com palavras que comunicam graça (gracejo e encanto) e ternura:

“Esse é o jumento, nosso irmão

Animal sagrado!

Serviu de transporte de Nosso Senhor

Quando ele ia para o Egito

Quando Nosso Senhor era pirritotinho

Todo jumento tem uma cruz nas costas, num tem?

Pode olhar que tem

Todo jumento tem uma cruz nas costas

Foi ali que o menino santo fez um pipizinho

Por isso ele é chamado de sagrado

Ha ha, jumento meu irmão

O maior amigo do sertão!”

Segundo Zacarias, a filha de Sião devia estremecer de alegria, a filha de Jerusalém devia prorromper em aclamações de júbilo porque seu rei vinha ao seu encontro, não num corcel para se mostrar imponente em sua realeza, mas montado em um jumentinho bem novo, num filhote de jumenta. Vem humilde e não prepotente, manso e não oponente, pois vem para ser amado e não temido, para amar e salvar seu povo e toda a humanidade. Por isso, também, não usa um carro dourado e nem se veste de púrpura, ostentando sua vanglória nem vem montado em cavalo brioso para deflagrar guerras contra os inimigos, mas, antes, montado em animal de carga, em humildade e pobreza.

É que, de certo modo, somos todos “bonitinhos” jumentos e jumentas, animais de carga, como nos fala Nietzsche nesta sua exortação: A vida é pesada, difícil de carregar: assim, pois, não fiques ali tão cheio de maciez! Nós somos todos “bonitinhos” jumentos e jumentas de carga. O que temos de comum com os botões de rosa, os quais tremem porque uma gota de orvalho jaz sobre seu corpo? Nós amamos a vida, não porque estejamos acostumados com a vida, mas porque estamos acostumados a amar.

A nós, portanto, o Senhor nos convida a depor os pesados fardos, e a tomar o seu jugo suave e a nos fazermos mansos e humildes como ele. Na leitura dos Padres da Igreja, esses dois animais representam toda a humanidade, judeus e gentios.

A proclamação do reinado do futuro Messias parece um paradoxo, pois como o rei humilde irá instaurar um reino universal de paz sobre a face da terra? Como “eliminará de Efraim o carro de guerra e de Jerusalém o carro de combate? Como despedaçará o arco de guerra e proclamará a paz para as nações? Como seu domínio irá de um mar ao outro e do rio às extremidades da terra?” (Zc 9, 10). Sim, como este Messias, rei humilde irá destruir o que destrói, eliminar o que elimina, aniquilar o que aniquila os homens? Resposta: pela sua humildade. Os profetas nos alertam: é o “Príncipe”, o Princípio, da Paz (cfr. Is 9,5). Ele é a nossa Paz (Mq 5,4). Ora, como não ver nesta profecia e no jumento uma imagem singela e ao mesmo tempo eloquente do mistério da encarnação no qual o Criador assume a nossa condição humana mais terra a terra, mais corpo a corpo, se apequena, se abrevia a fim de poder ser recebido e amado pela sua pequena criatura? Podemos assim com toda a razão parafrasear o dito do Precursor: “Eis aí o jumento que carrega o pecado do mundo!”

. Na revelação do Pai aos pequeninos o júbilo de Jesus

O Evangelho de hoje, vem logo depois do grande elogio que Jesus faz a João Batista por causa de sua humildade e da lamentação sobre as cidades da Galileia por causa de sua incredulidade (Cf. Mt 11, 7-24). Ele se desenvolve em três partes ou momentos distintos, mas intimamente unidos pela dinâmica do desejo da festa do encontro de Deus com seus queridos, os pequeninos.

  • Jesus louva o Pai

O Evangelho começa com uma confissão de Jesus: “Eu te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Confissão, aqui em vez de acusação de culpa e pecados significa proclamação, alto e bom som, da verdade mais íntima, profunda, cara, pura e amável que Jesus experimenta em seu coração: a sabedoria do Pai.

São Jerônimo comentando esta sabedoria diz que Cristo louva ao Pai por ter escondido o Evangelho aos sábios e inteligentes – isto é, aos sacerdotes, escribas e fariseus – e por tê-lo revelado aos pequeninos, isto é, aos discípulos, especialmente aos Apóstolos. Já santo Agostinho interpreta os “sábios e inteligentes” como sendo os “soberbos” – uma vez que os “pequeninos” são os humildes. São Gregório Magno, por sua vez, oportunamente, observa que Jesus não disse: “revelastes estas coisas aos néscios” (insensatos), mas sim “aos pequeninos”, indicando que não está excluindo a inteligência e sabedoria enquanto penetração de espírito, mas sim a soberba, o orgulho, que advém do considerar-se a si mesmo sagaz e esperto. E, neste mesmo sentido, São João Crisóstomo completa, dizendo que com isso Jesus nos ensina o cuidado que precisamos ter em fugir à soberba e em amar a humildade. Jesus detesta a mesquinhez ou a mediocridade de espírito, mas exalta a humildade. Não condena a sabedoria e a inteligência; condena, isto sim, a presunção, a arrogância, a soberba dos que se consideram sábios e inteligentes, doutores e mestres.

Pequenino, aqui, talvez aponte para a experiência de uma profunda intimidade, mais ou menos como o pupilo, o queridinho, o amado, o preferido do Pai. Neste sentido, todos os homens são “os pequeninos de Deus”, mas nem todos o fazem por se merecer, nem todos ousam abrir mãos de sua pretensa e falsa “grandeza”, de seu orgulho. Ao contrário destes, encontramos os simples, aqueles que não tem acesso à erudição e à ciência, os que nada contam na religião do templo e que costumam se abrir a Deus com coração limpo, dispostos a se deixar instruir, guiar e conduzir por Ele.

  • Jesus, o verdadeiro pequenino do Pai

Como disse o Papa Francisco, Jesus é o rosto, a alma do Pai. Isso não apenas porque Ele vem do Pai, é Filho do Pai, mas também porque Ele e o Pai são um só; o Pai é o seu tudo, seu amor, sua Paixão, seu bem-querer. Por isso, ao ver que o Pai se torna aceito e conhecido, não se contém: exulta de alegria. Mas, o Pai só pode tornar-se conhecido pelo Filho pelas suas palavras e obras, principalmente pela sua paixão e morte na cruz. É neste mistério que mais e melhor aquele que é “o Verbo que estava escondido e junto de Deus, e que é Deus” (Jo 1,1), a “imagem do Deus invisível (Cl 1,15), o resplendor da sua glória e a imagem da sua substância” (Hb 1,3), mais profundamente e melhor se revela. Jesus, o verdadeiro pequenino do Pai.

Os pequeninos conhecem o Filho e, assim, o Pai, com quem o Filho é Um. Como já dissemos na Solenidade de São Pedro e São Paulo, antes de uma informação, conhecimento é, aqui, ser nascido de Deus, ser gerado por ele, como filho no Filho, é conhecer Jesus como o Filho do Deus vivo, é tornar-se filho com ele, nele, como ele. Eis a maravilha, o mistério, o milagre, o Reino dos Céus que estava começando a se concretizar com as pregações e milagres de Jesus naquelas pessoas simples, humildes, pobres, os pequeninos de Deus; um conhecimento, portanto, que, antes de teorias ou doutrinas, é comunhão, isto é, comungação do ser de Deus, d’Aquele que é (cf. 2 Pd 1, 4). Assim, por parte dos homens, conhecer é co-nascer com o mistério que se nos dá a revelar. Conhecer o Filho é tornar-se seu irmão. Conhecer o Pai é tornar-se seu filho: ser filho no Filho, com o Filho, como o Filho.

Como não rejubilar, então, não fazer festa se o desígnio de Deus, escondido em seu coração desde toda a eternidade estava começando a se concretizar na terra dos homens?! Por isso, o caminho deste conhecimento, em vez de poder, soberba, vanglória só pode ser o da pequenez, da minoridade, da humilhação, do néscio. Disso sabiam muito bem os “idiotas”, mas verdadeiros sábios, São Francisco, frei Egídio e toda aquela plêiade de frades que assumiram ser menores não apenas como nome, mas também como profissão. “De fato, eram menores porque eram submissos a todos e também porque procuravam sempre o pior lugar e exercer o ofício em que pudesse haver alguma desonra” (1C 38). Egídio, por sua vez chegou a denominar a humildade de “ciência útil”: “O homem que quer saber muito deve aprender muito e deve humilhar-se muito, abaixando-se a si mesmo e inclinando a cabeça, tanto que o ventre toque no chão… Pois, o Senhor não põe a graça nos soberbos, mas nos humildes” (DE 4)[1].

 Humilhar-se é, aqui, a modo do jumento, empenhar-se corpo a corpo, “terra a terra” no desejo e na busca daquele que nos tocou e visitou por primeiro. Este empenho é necessário, porém, não é suficiente. É preciso, acima de tudo, experimentar no não-saber e no não-poder da busca, que a sabedoria não é simplesmente a conquista de um mérito. É, antes, o dom de uma conquista, dádiva, graça. Isto quer dizer que a própria doação de si no empenho da busca já nos é dada como uma possibilidade que nos vem daquilo que nos desperta e encanta para a busca. O, soberbo, ao contrário, desconhecendo que a gratuidade está na raiz de todo empenho de busca e imaginando, néscia e ilusoriamente, que a sabedoria é resultado de seus esforços, se endurece na empáfia da arrogância e da soberba. Assim, jamais terá a alegria, o júbilo da festa do encontro.

2.3. Jesus convida

Na última parte, Jesus lança dois convites: jogar fora o peso que cansa e fatiga e assumir o jugo dele que dá descanso.

Para as pessoas simples que viviam oprimidas pelo peso das tradições e interpretações da Lei dos “donos” da Religião e do Templo, Jesus lhes oferece o seu jugo. Não que este seu jugo seja menos exigente, mas porque vem da graça do encontro e do bem-querer não será jamais um peso. O amor exige humildade como a terra e o peregrino sedento exigem água.

A humildade é a suavidade do Amor de Deus – que se revela no coração de Jesus. Tanto os fardos de nossos pecados[2], que impomos a nós mesmos, quanto os fardos da justiça da lei – a justiça dos fariseus (cf. Mt 5, 20), devem ser abandonados, no seguimento de Jesus, manso e humilde de coração. Jesus convida os homens a lançarem fora os fardos que se autoimpõem e que, pelo peso do seu egocentrismoimpedem de se abrirem e de entrar na suavidade do Reino da graça, do Amor.

Mas, como se vai a Cristo, a Sabedoria encarnada, como uma esposa vai ao seu esposo? Não com os pés, mas com os movimentos do coração, com a fé e com as condutas da vida. É preciso vir a Jesus – nosso esposo – porque Ele já veio e está aí a bater a porta do nosso coração; é preciso não só vir a Ele, mas também tomar o seu jugo. O jugo de Jesus é o Evangelho. O jugo con-juga os que o carregam. É neste sentido que os casais são chamados “cônjuges”, isto é, aqueles que, na suavidade do amor, carregam o mesmo jugo. O amor deixa suave todo o jugo… No jugo do Evangelho se unem judeus e gentios, para serem discípulos de Jesus. É o jugo suave do discipulado. Por isso Jesus diz: “aprendei de mim”. Aprender o que? A humildade.

Fundando a existência sobre a base da humildade, o homem encontra paz. “A mente repousa na humildade”, dizia frei Egídio. Jesus diz: “e encontrareis descanso para as vossas almas”. Pela humildade, o homem se torna solícito e útil para os outros e, ao mesmo tempo, encontra paz e serenidade em si mesmo. Esta paz lhe é dada como um penhor daquela paz, que lhe será concedida na eternidade.

Entretanto, pergunta um mestre medieval (Rabano Mauro), não disse o Senhor Jesus mesmo que “estreita é a senda que conduz à vida” (Mt 7, 14)? Como ele diz agora que seu jugo é suave e o seu peso é leve? Resposta: o que no princípio nos parece custoso, com o passar do tempo, pela doçura inefável do encontro, se nos torna sumamente fácil.

São Jerônimo ainda explica que o Evangelho é mais leve do que a Lei porque o Evangelho considera a intenção e o desejo do homem enquanto a Lei considera somente a obra exterior. O Evangelho é também mais leve, pois, enquanto a Lei traz muitos preceitos impraticáveis (Cf. At. 15), o Evangelho nos recomenda o essencial: o amor a Deus e ao próximo. “Sim, este mandamento, que hoje te dou, não é excessivo para ti, nem está fora do teu alcance. Não está no céu (…). Nem está além dos mares (…). Sim, esta palavra está bem perto de ti, está em tua boca e em teu coração, para que a ponhas em prática” (Dt 30, 11-14).

Conclusão

Pai, é termo que resume não só a natureza mais profunda e visceral de Deus, mas também, e consequentemente, todo o seu relacionamento com as suas criaturas, principalmente com os homens. Filho, por sua vez resume a essência do homem e, consequentemente, como deveria ser todo seu relacionamento com Deus, seu Pai e com as criaturas suas irmãs, enfim, sua vocação-missão no mundo e sua história.

O júbilo de Jesus porque via que as coisas do Pai, isto é, seu cuidado, seu perdão, sua misericórdia, sua compaixão, enfim sua salvação, se revelavam e aconteciam porque acolhidas pelos simples e pequeninos deve repetir-se séculos afora na e pela Igreja. É preciso, pois que cada um de nós, a exemplo de Maria, diante do mistério da encarnação, possa confessar alto e bom som: “A minha alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus meu salvador porque olhou para a pequenez de sua serva”; que cada um de nós como São Francisco, diante da graça do encontro com Cristo e de sermos chamados e enviados por Ele a participar e provar do mistério de sua filiação divina, possamos cantar jubilosos o nosso “Laudato si, mi Signore!” .

Fraternalmente,

Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini, ofm

[1] Na história do pensamento há o que Nicolau de Cusa chamou de “Douta Ignorância” ou a figura do “Idiota da Sabedoria”. Uma longa tradição, que vai da “Loucura da Cruz” de Paulo, que se considerava a si mesmo um “idiota” (cf. 2 Cor. 11, 6; 1 Cor. 2, 2) até Dostoievski, autor do “Idiota”, passando pela mística (Gregório de Nissa, Agostinho, Dionísio, Boaventura, Eckhart, Henrique Suso, etc.), em que o conhecimento de Deus se dá pela entrada na “caligem” (escuridão) ou “nuvem do não-saber”.

[2] São Gregório diz: “é certamente um jugo áspero e uma dura submissão o estar submetido às coisas temporais, o ambicionar as terrenas, o reter as que morrem, o querer estar sempre no que é instável, o apetecer o que é passageiro, e o não querer passar com o que passa. Porque, enquanto desaparecem, apesar de nossos desejos, todas estas coisas que por ansiedade de possui-las afligiam nossa alma, nos atormentam depois por medo de perde-las”.