14.12.2016

Falece Dom Paulo, o Cardeal da Esperança

dompaulo_130916_2g

Aos 95 anos, faleceu nesta quarta-feira (14/12, Festa de São João da Cruz) o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo. Ele estava internado no Hospital Santa Catarina em decorrência de uma broncopneumonia.

“Comunico, com imenso pesar, que no dia 14 de dezembro de 2016 às 11h45, o Cardeal Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito de São Paulo, entregou sua vida a Deus, depois de tê-la dedicado generosamente aos irmãos neste mundo”, informou o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, em nota divulgada hoje às 13 horas. “Louvemos e agradeçamos ao “Altíssimo, onipotente e bom Senhor” pelos 95 anos de vida de Dom Paulo, seus 76 anos de consagração religiosa, 71 anos de sacerdócio ministerial, 50 de episcopado e 43 anos de cardinalato. Glorifiquemos a Deus pelos dons concedidos a Dom Paulo, e que ele soube partilhar com os irmãos. Louvemos a Deus pelo testemunho de vida franciscana de Dom Paulo e pelo seu engajamento corajoso na defesa da dignidade humana e dos direitos inalienáveis de cada pessoa. Agradeçamos a Deus por seu exemplo de Pastor zeloso do povo de Deus e por sua atenção especial aos pequenos, pobres e aflitos. Dom Paulo, agora, se alegre no céu e obtenha o fruto da sua esperança junto de Deus!”, acrescentou D. Odilo, convidando a todos a elevarem preces de louvor e gratidão a Deus e de sufrágio em favor do falecido Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e  também a participarem do velório e dos ritos fúnebres, que serão realizados na Catedral Metropolitana de São Paulo.

A história deste franciscano se confunde com a história da cidade de São Paulo e com a história do país. Foi o 5º Arcebispo e 3º Cardeal de São Paulo, permanecendo 32 anos como bispo na Arquidiocese de São Paulo e 43 anos como Cardeal. No dia 2 de julho de 2016 celebrou na Catedral da Sé os 50 anos de sua Ordenação Episcopal.

Estudou na Universidade Sorbonne de Paris, onde formou-se em Patrística e Línguas clássicas. Foi professor e mestre dos clérigos, diretor do CIC e jornalista profissional. Trabalhou como vigário nos subúrbios de Petrópolis, onde era amigo das crianças e dos pobres dos morros, quando foi indicado bispo auxiliar de Dom Agnelo Rossi, no dia 02/05/1966 e sagrado em 03/07/1966, como bispo titular de Respecta.

Atuou intensamente na Região Norte de São Paulo. Foi nomeado Arcebispo de São Paulo no dia 22/10/1970, tomando posse dia 01/11/1970.

odiloPerante o núncio apostólico, 28 bispos e arcebispos, diante do governador, do prefeito e cerca de cinco mil fiéis, Dom Paulo tendo a mãe presente, Sra. Helena Steiner Arns, com 76 anos, e seus quatorze irmãos, fez comovente exortação:

“Venho do meio do povo desta Arquidiocese a que já pertencia, do clero a quem amo e de quem sou irmão, dos religiosos que comigo se esforçam para serem sinal e esperança dos bens que estão para chegar, dos leigos que entendem o serviço aos irmãos como tarefa essencial de sua existência.”

Ao longo de sua trajetória, trabalhou como jornalista, professor e escritor, tendo publicado 57 livros. Durante a Ditadura Militar, destacou-se por sua luta política, em defesa dos direitos humanos, contra as torturas e a favor do voto nas Diretas Já.

Ganhou projeção na militância em janeiro de 1971, logo após tornar-se arcebispo de São Paulo, e denunciar a prisão e tortura de dois agentes de pastoral, o padre Giulio Vicini e a assistente social Yara Spadini.

No mesmo ano, apoiou Dom Hélder Câmara e Dom Waldyr Calheiros que estavam sendo pressionados pelo regime militar.

Em 1972 criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo e, como presidente regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação do “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao regime militar que ganhou ampla repercussão à época.

Presidiu celebrações históricas na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, em memória de vítimas da Ditadura Militar. Dentre eles, do estudante universitário Alexandre Vannucchi Leme, assassinado em 1973, e o ato ecumênico em honra do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no DOI-CODI, em São Paulo, em 75.

Atuou contra a invasão da PUC em 1977, em São Paulo, comandada pelo coronel Erasmo Dias, à época secretário de Segurança, e a operação para entregar ao presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, uma lista com os nomes de desaparecidos políticos.

Também teve papel importante em favor das vítimas da ditadura na Argentina, em 1976. O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Perez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, disse que foi “salvo duas vezes” por Dom Paulo Evaristo Arns durante a ditadura no Brasil.

Em 1980, acompanhou a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. Em São Paulo, João Paulo II falou no estádio do Morumbi para 200 mil operários.

Em 1985, criou a Pastoral da Infância, com o apoio de sua irmã, Zilda Arns, que morreu no terremoto de 2010 no Haiti, onde realizava trabalhos humanitários.

Em 28 anos de arcebispado, criou 43 paróquias, construiu 1200 centros comunitários, incentivou e apoiou o surgimento de mais de 2000 Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na capital paulista.

Por seus feitos, recebeu inúmeros prêmios e homenagens no Brasil e no exterior. Dentre eles, o Prêmio Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), o Prêmio Niwano da Paz (Japão), e o Prêmio Internacional Letelier-Moffitt de Direitos Humanos (EUA), além de 38 títulos de cidadania.

Sua biografia foi relatada em dez livros, sendo o mais recente lançado em outubro deste ano, no Tuca, teatro da PUC, na Zona Oeste de São Paulo, durante uma homenagem pelos 95 anos de Dom Paulo.

Passou os últimos anos de sua vida entre orações, leituras e assistência aos idosos, recebendo ainda inúmeras homenagens, entre as quais a da presidente Dilma Roussef que, em 18 de maio de 2012, foi visitá-lo na Fraternidade Nossa Senhora dos Anjos, da Congregação das Irmãs da Ação Pastoral, que cuidaram de Dom Paulo desde que se tornou cardeal emérito. Dom Paulo residia em Taboa da Serra (SP). (site “Franciscanos.org.br”)